quinta-feira, 23 de abril de 2015

Iván Izquierdo: “A leitura é o melhor exercício para a memória”

19 de outubro de 2013

Iván Izquierdo: “A leitura é o melhor exercício para a memória”

Iván Isquierdo - youtube.com
Iván Izquierdo pesquisas o funcionamento do cérebro  | Foto: Gilson Oliveira/PUCRS

Iván Izquierdo pesquisa o funcionamento do cérebro | Foto: Gilson Oliveira/PUCRS

Maurício Brum

Argentino de nascimento, radicado no Brasil há 40 anos e naturalizado desde 1981, o neurocientista Iván Izquierdo é o pesquisador brasileiro mais citado da área, dentro e fora do país. A plataforma Web of Science contabiliza mais de 17,7 mil referências a textos seus, em trabalhos publicados no mundo todo. Atualmente ligado ao Instituto do Cérebro da PUC, Izquierdo coordena as investigações do Centro de Memória. Sua recomendação: não há melhor atividade para estimular as lembranças do que a leitura.

“Quando o cérebro vê uma palavra, tem que formar um inventário de informações e termos que cada letra lhe traz”, descreve Izquierdo. Trata-se de um esforço gigantesco que muitas vezes passa despercebido: “Se a primeira letra da palavra é R, por exemplo, podemos pensar em Raul, rato, revista… em questão de milissegundos o cérebro forma uma lista das palavras que conhecemos e que começam com essa letra – em todas as línguas que sabemos. É uma atividade intelectual poderosa”.

No Centro de Memória, dedicado exclusivamente à pesquisa científica, Izquierdo realiza experimentos em animais, atrás de respostas sobre a formação e o armazenamento da memória. Ele ressalta que os episódios com forte conteúdo emocional são lembrados mais facilmente, ainda mais se forem experiências negativas: “A alegria nós deixamos passar como algo tranquilo, mas algo terrível como a morte de alguém é mais forte. Esses eventos nos deixam alertas, liberando uma série de neurotransmissores”.

No entanto, mesmo o esquecimento tem sua função. Izquierdo usa como exemplo o personagem Funes, “o memorioso”, de Jorge Luis Borges. Funes podia recordar dias inteiros, mas para isso precisava de outro dia inteiro. “Minha memória, senhor, é como depósito de lixo”, lastimava o personagem de Borges. E Izquierdo concorda. Os casos reais de hipermemória não costumam remeter a existências agradáveis ou criativas. “Para poder funcionar nesse mundo temos que esquecer certas coisas que não têm razão para serem lembradas”, diz o neurocientista.

Claro que nem todo o esquecimento é desejável. O mal de Alzheimer, que degenera a capacidade de formar memórias, continua sendo um dos grandes vilões para os estudiosos na área. “Quanto mais soubermos sobre a doença, mais próximos estaremos de um tratamento eficaz, mas ainda é impossível saber quando poderemos falar em reverter um caso de Alzheimer. Hoje estamos mais próximos de encontrar respostas do que há um ano, mas é só isso que se pode dizer”, lamenta Izquierdo.

O pesquisador, porém, não compartilha da ideia pessimista de que as novas ferramentas de busca – como o Google – estariam criando uma geração com a memória mais fraca. Pelo contrário: o bom uso das tecnologias só favoreceria o acesso ao conhecimento e a materiais de leitura. “Terá havido em seu momento pessoas com medo de edifícios cheios de livros, pessoas que eram contra as bibliotecas como agora temem o Google”, comenta. “Mas estes são os que fazem o mundo caminhar para trás”.

Serviço

Instituto do Cérebro (InsCer) da PUCRS, funciona na Av. Ipiranga, 6690, Hospital São Lucas, Prédio 63. Faz diagnósticos através de exames de imagem de alta tecnologia, desde que receitados por médicos externos. O InsCer não realiza consultas médicas nem tratamentos. Atende a pacientes do SUS e de convênios. O exames são feitos de segunda à sexta, das 8h às 19 horas. Contato: (51) 3320-3485 ou inscer@pucrs.br

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