Investimentos deram impulso à candidatura de Campos
Silvia Constanti - Valor
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Eduardo Campos: fortalecido pelo resultado do PSB nas eleições municipais, governador poderá entrar
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Brasil - 08/01/2013
Ao anunciar em agosto, a construção de uma fábrica em Pernambuco, o
dono da cervejaria Petrópolis, Walter Faria, encheu de elogios o
governador Eduardo Campos (PSB). O empresário - que costuma ser avesso
aos microfones - destacou com entusiasmo o profissionalismo da gestão
estadual e agendou uma data específica para brindar a conclusão da
fábrica, orçada em R$ 600 milhões. "Em abril de 2014, quando o senhor já
tiver feito o que tem que ser feito, nós já estaremos tomando cerveja
feita em Pernambuco", prometeu.
Apesar do desejo de disputar a eleição presidencial já em 2014, Campos
sabe que não é simples o rompimento da aliança do seu partido com o
governo federal. Uma parte significativa dos grandes investimentos que
desembarcaram em Pernambuco nos últimos anos teve o dedo da gestão
petista, sobretudo quando quem mandava era Luiz Inácio Lula da Silva.
Campos, por sua vez, soube aproveitar o incentivo e constrói uma relação
cada vez mais sólida com o empresariado, algo que pode lhe render um
poder de fogo importante no futuro.
O desempenho da economia em 2013 e o seu reflexo sobre o prestígio da
presidente Dilma Rousseff vão ser decisivos para uma guinada do
pernambucano rumo ao Planalto. Fortalecido pelo resultado do PSB nas
eleições municipais, ele poderá ser ungido candidato em um cenário de
estagnação, seja por insatisfeitos da base aliada ou pelo empresariado
que o tem em alta conta. Nos corredores do Palácio do Campo das
Princesas, sede do governo de Pernambuco, é considerada até mesmo a
hipótese de que Dilma o convoque para a missão.
Diante dos números e projeções mais recentes para o Produto Interno
Bruto (PIB), Campos tem disseminado o mantra de que é preciso ajudar a
presidente "a ganhar 2013". A avaliação no Recife é de que a mensagem
revela, acima de tudo, um alerta. Isso porque o pernambucano tem ciência
de que se a economia desatolar no próximo ano, Dilma entrará
praticamente inconteste no ano da eleição, o que pode colocar em
banho-maria os planos de Campos.
Questionado ao fim da cerimônia com a cervejaria, o governador
desconversou quando foi perguntado sobre as declarações do empresário.
"Ele espera que em abril de 2014 eu me desincompatibilize [do governo
estadual] para ser candidato 'a alguma coisa'", disse Campos à época,
sem mais delongas. O empresário, entretanto, apenas antecipara algo que o
governador já decidiu: deixar o cargo em abril de 2014 para estar apto a
disputar as eleições.
A expectativa majoritária em Pernambuco é de que ele concorra mesmo à
Presidência da República. Uma eventual candidatura a vice de Dilma,
muito comentada no meio político, está descartada. "Vice tem que ter
perfil e ele não nenhum", disse uma fonte privilegiada no Campo das
Princesas. O sentimento nos bastidores do poder no Recife é de que a
candidatura ao Planalto já está sendo construída e que sua oficialização
se dará naturalmente. "Ele será carregado", disse uma pessoa próxima a
Campos.
O inevitável rompimento com o governo petista, entretanto, não é um
processo fácil. A União teve - e ainda tem - papel relevante no
desempenho da economia pernambucana. Uma boa parte dos investimentos
estruturadores que chegaram ao Estado nos últimos anos tem as cores
verde e amarela. São os casos da refinaria Abreu e Lima, da Petroquímica
Suape, do Estaleiro Atlântico Sul e da fábrica da Fiat. Na semana
passada, por exemplo, o governador agradeceu Dilma pela "atenção e
empenho" em viabilizar a fabricação de motores da Fiat em Pernambuco,
outro investimento confirmado. Brasília também interveio para evitar que
a Fifa excluísse Recife da Copa das Confederações do ano que vem, já
que as obras não andaram a contento da entidade.
A ida da Fiat para Pernambuco teve a participação decisiva de Lula, que
permitiu a prorrogação de um benefício fiscal determinante para a
viabilização do empreendimento. No ano passado, porém, Campos e o colega
da Bahia, Jaques Wagner (PT), entregaram à Dilma um pedido oficial de
incentivos fiscais para a ampliação do parque automotivo nordestino,
ainda muito modesto. O pedido, segundo fontes em Pernambuco, foi barrado
pelo Ministério da Fazenda.
Cria política de Campos, o prefeito eleito do Recife, Geraldo Julio,
era o principal interlocutor do governo de Pernambuco com o setor
privado até ser escolhido para disputar a eleição. Em entrevista ao Valor,
ele foi categórico ao reconhecer a importância da parceria federal. "Se
o presidente Lula não tivesse tomado a decisão de determinar a parcela
de nacionalização da Transpetro, não teríamos aqui o maior estaleiro do
país. O mesmo se pode dizer das refinarias. Sem as políticas sociais,
como o Bolsa Família e a previdência rural, não aconteceria a mudança",
ele diz.
Além dos investimentos, a dependência financeira da União é
considerável, tanto que o governador saiu da eleição municipal
empunhando a bandeira de um novo pacto federativo, pleito que começa a
ganhar força no país. Recentemente, Eduardo Campos lamentou publicamente
o veto presidencial à distribuição dos royalties do petróleo referentes
aos contratos vigentes.
Se o sistema de gestão do governo pernambucano já agradava, o discurso
mais afiado contra o governo petista encontra no setor privado muitos
simpatizantes, o que coloca Campos como ameaça ao PSDB na disputa pela
fatia do empresariado que torce o nariz para o PT. Outra tese bastante
aventada nos círculos políticos, uma eventual chapa Eduardo Campos -
Aécio Neves também é descartada em Pernambuco. No Recife, o senador
mineiro é considerado um concorrente "fraco".
O presidente de uma companhia que está investindo centenas de milhões
de reais em Pernambuco diz que os méritos pelo salto na economia do
Estado são muito mais do governador do que da União. "O Lula só deu toda
essa atenção ao Nordeste porque sabia que a inclusão desse contingente
de pessoas seria uma solução - e não um problema - para a economia do
país."
Na avaliação do investidor, Campos é uma espécie rara de "tecnolítico",
uma mistura bem resolvida de executivo agressivo e político habilidoso.
"Ele consegue criar um ambiente de negócios como nenhum outro político,
porque tem um entendimento claro do cenário. É agressivo, claro,
desenvolto, afirmativo e entende a linguagem do empresário. Sabe o que é
custo, o que é produtividade", enumerou.
"Agressivo" é a definição preferida dos empresários que avaliam o
governador de Pernambuco. Muitos, como o dono da cervejaria Petrópolis, o
questionam sobre seus planos presidenciais. Não ouvem nada de concreto
como resposta. Um executivo que negociou diretamente com Campos a
instalação, no Recife, do maior call center da América Latina também o
classificou como "agressivo". E foi além: "Para mim, o mais
impressionante é o pragmatismo. Há uma diferença gigante entre ele e a
média dos políticos", completou.
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