sábado, 2 de março de 2013

PIB fraco em 2012 esfria recuperação da economiaProduto Interno Bruto do país avançou 0,9% no ano passado e alcançou R$ 4,4 trilhões. Redução nos investimentos preocupa e mercado refaz suas projeções para este ano



PIB fraco em 2012 esfria recuperação da economiaProduto Interno Bruto do país avançou 0,9% no ano passado e alcançou R$ 4,4 trilhões. Redução nos investimentos preocupa e mercado refaz suas projeções para este ano
Zulmira Furbino -
Paulo Henrique Lobato
Publicação: 02/03/2013 06:00 Atualização: 02/03/2013 07:23
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil fechou o ano de 2012 com um crescimento de 0,9% e alcançou R$ 4.402,5 bilhões puxado pelo consumo das famílias, que cresceu 3,1% na comparação com 2011, pelo aumento de gastos do governo (3,2%) e, principalmente, pela expansão do faturamento no setor de serviços (1,7%). Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A agricultura (-2,3%), a indústria (-0,8%) e a Formação bruta de capital fixo (investimentos), que recuou 4%, jogaram água na fervura do crescimento brasileiro no ano passado. Para que o país volte a crescer de forma significativa este ano, o principal desafio da presidente Dilma Rousseff será atrair investimentos.

Diante do resultado do ano passado, a expectativa do mercado é de que a soma das riquezas produzidas em território brasileiro avance entre 2% e 3,7% em 2013. Já o governo espera que o PIB cresça entre 3% e 4% este ano. Em que pese a timidez do crescimento econômico brasileiro, o último trimestre do ano trouxe uma promessa de alívio para 2013. É que no primeiro trimestre de 2012 o PIB cresceu 0,1%, mas no apagar das luzes do ano (quatro trimestre) o avanço já era de 0,6% frente ao trimestre anterior. Para o ministro da Fazenda, Guido Mantega, isso mostra “uma nítida recuperação da economia brasileira em 2012, ano de crise, parecido com 2009 em vários aspectos”.

“O PIB de 2012 veio relativamente dentro do esperado, mas a retração nos investimentos preocupa. Em 2011, a formação de capital em relação ao PIB foi de 19,3%, o que já era um percentual baixo. Mas em 2012, ela ficou em 18,1%”, aponta Antônio Braz, analista do IBGE em Minas. “Esse número está muito aquém do nível de 25%, que é o desejado para ativar com maior vigor os fatores de produção (terra, trabalho e capital) necessários para elevador o nível de crescimento potencial do PIB brasileiro para algo em torno de 5% a 7%”, completa Felipe Queiroz, analista da empresa de classificação de riscos Austin Rating. Ele explica que o resultado desse indicador, embora tenha vindo dentro do esperado em 2012, preocupa porque afeta a perspectiva de crescimento dos próximos anos.

Outro ponto positivo foi a modesta elevação da formação bruta de capital fixo no quarto trimestre (+0,5%, ante -1,9% no trimestre anterior), que aconteceu depois quedas sucessivas nos últimos quatro trimestres. E é esse o rumo a seguir se o país quer voltar a crescer de forma significativa, sustentam os economistas. Para isso, as empresas deverão superar o trauma causado pela queda na taxa básica de juros da economia e acreditar que, investindo em seu negócio, poderão obter retorno financeiro. Para Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi ), o momento é de transição.

“É o que mostram o quarto trimestre de 2012 e o primeito trimestre de 2013”. A partir de abril, maio e junho vamos poder auferir os resultados dos road shows do governo dentro e fora do país para alavancar investimentos na economia”, afirma Tingas. André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, avalia que não seria possível trazer a taxa de juros para um nível mais baixo sem causar um distúrbio na economia. “A redução da expectativa com a economia brasileira acabou gerando um ruído e bateu de forma forte no investimento”.

Expectativas
Em 2013, a expectativa na Austin é de que o setor de serviços, assim como no ano passado, continue como o pilar do crescimento pela ótica da oferta com avanço de 3,8%. O setor industrial, por sua vez, deve apresentar recuperação devido, em parte, à base de comparação fraca, e às medidas anticíclicas adotadas pelo governo ao longo de 2012, saindo de -0,8% em 2012 e encerrando 2013 com 3,4% de alta. Já o setor agropecuário, segundo Felipe Queiroz, deverá se recuperar e apresentar alta de 3,9%, tanto por causa da recuperação dos preços quanto pela expectativa de novo recorde da safra.

No segmento de agronegócios, as perspectivas são boas para a soja, que deverá bater recorde de produção na safra 2013-2014, e para o milho. Rafael Ribeiro de Lima Filho, consultor de mercado da Scot Consultoria, afirma que, apesar de uma queda de preços da soja em comparação com o ano passado, depois de altas seguidas nas três últimas safras, este ano começou com preços maiores do que os do início de 2012. Além disso, a área plantada do grão cresceu 10,4%, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). No caso do milho, o mercado espera que a exportação fique em torno de 15 milhões em 2013. No ano passado foi de 22,3 milhões e em 2011 9,3 milhões. “A expectativa é positiva para o PIB agropecuário neste ano”, sustenta Rafael Ribeiro.

Na indústria, o destaque foi o crescimento da atividade de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (3,6%) e da construção civil (1,4%). Segundo o IBGE, o desempenho de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana foi puxado pelo consumo residencial e comercial de energia elétrica. No segmento extrativo mineral houve queda de 1,1% no ano. A indústria de transformação, por sua vez, recuou 2,5% em relação ao ano anterior.

No setor externo, tanto as exportações quanto as importações de bens e serviços tiveram variações positivas (0,5% e 0,2%, respectivamente), alimentdas pela desvalorização cambial. Entre 2011 e 2012, a taxa de câmbio (medida pela média trimestral das taxas de câmbio R$/US$ de compra e venda) variou de R$ 1,67 para R$ 1,95.

Ordem é não desanimar

A presidente Dilma Rousseff mandou um curto mas enfático recado a sua equipe: “Não desanimem”. O objetivo foi manter a cabeça erguida do governo, nocauteado ontem com a divulgação do PIB. Apesar de esperado, o número divulgado pelo IBGE expôs as fissuras da política econômica, que assustam os investidores, deixam os empresários com o pé atrás e instalam um clima de desconfiança que custa a dissipar, mesmo com todos os estímulos ao setor produtivo alardeados pelo ministro Guido Mantega.

Nos dos primeiros anos do mandato da presidente Dilma Rousseff, a média anual ficou em 1,8%, considerando o crescimento de 2,7% de 2010. É o pior resultado no primeiro biênio de um mandato desde o governo de Fernando Collor, quando o Brasil enfrentou recessão. O desempenho do país em 2012 ficou abaixo da média mundial, de 3,2%, e foi o pior entre os Brics, grupo de emergentes que inclui também Rússia (3,4%), Índia (5%), China (7,8%) e África do Sul (2,5%). Na América Latina, três países ficaram acima da média mundial: México (3,9%), Colômbia (4%) e Chile (5,5%).

“O Brasil tem uma economia mais diversificada do que seus vizinhos da região", disse o coordenador de Contas Nacionais do IBGE, Roberto Olinto. No caso do México, a explicação para a diferença é outra: “Isso é influenciado pelos 2,2% de crescimento dos Estados Unidos. O México tem muitas maquiladoras (fábricas que montam componentes importados agregando pouco valor), que exportam produtos para o mercado norte-americano”, argumentou.

O professor da Fundação Getulio Vargas Carlos Thadeu de Freitas, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), vê outras razões para o desempenho pífio da nossa produção. “O Brasil tem menor competitividade do que esses países, sobretudo pela precariedade da infraestrutura e do custo da mão de obra”, notou.

O que nos interessa
Emprego e renda ficam garantidos
Mesmo baixo, o crescimento da economia brasileira em 2012 foi suficiente para evitar que os efeitos da crise financeira na Europa e nos Estados Unidos afetassem o emprego e a renda dos brasileiros que, em alta, alimentaram o consumo das famílias e evitaram um tombo maior do Produto Interno Bruto (PIB) em 2012. Para este ano, a perspectiva é de retomada dos investimentos, que geram empregos, que geram renda, que geram consumo e movimentam a economia. Em 2013 a economia brasileira vai crescer mais do que no ano passado, mesmo que num ritmo mais lento. E isso pode até ser uma vantagem, porque um crescimento acelerado sem oferta de produtos, serviços e infraestrutura gera pressão sobre os preços e inflação. Com expansão mais lenta e retomada dos investimentos, o país tem como ajustar a oferta à demanda e tornar o crescimento econômico sustentável.

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