Cotas raciais e sociais provocam discórdia nas Universidades Federais.Projeto que reserva metade das matrículas em universidades gratuitas para alunos da rede pública divide opiniões, multiplica disputa por vagas de livre concorrência e adiciona preocupação para candidatos ao ensino superior
Flávia Ayer, Paula Sarapu e Sandra Kiefer
Publicação: 09/08/2012 06:00Atualização: 09/08/2012 06:43
"A lei vai trazer mais igualdade para o vestibular da UFMG, que, apesar de pública, é a universidade mais elitizada de Minas. Quando pisei no pré-vestibular, vi matérias que nunca tinha visto em sala", Rubens Serafim, de 22 anos, aluno de escola pública em Sabinópolis, quinto vestibular |
A expectativa é de que o Projeto de Lei 180/2008 ganhe a assinatura presidencial sem muitas ressalvas, já que é defendido pelo Executivo. As universidades terão quatro anos para se adequar depois que as novas regras forem publicadas. Em 10 anos o sistema deve ser reavaliado. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) informou que não pretende mudar seu processo de seleção no vestibular deste ano, cujas inscrições começam dia 13.
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Debate sobre cotas raciais e sociais nas universidades já toma conta de cursinhosPor trás da discussão sobre cotas nas federais está a disparidade na educaçãoCotas raciais e sociais nas universidades federais dividem opiniões em Minas GeraisCota para aluno de escola pública é vista com reserva por educadoresSenado aprova sistema de cotas raciais e sociais nas universidades federaisO presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), Emiro Barbini, prevê aumento em 100% na dificuldade para alunos de escolas particulares serem aprovados nas universidades públicas, o que vai exigir ainda mais preparo dos estudantes. Embora reconheça o cunho social da medida, Barbini a considera paliativa. “O problema de candidatos da rede pública ingressarem no ensino superior em instituições federais deveria ser atacado na melhoria da qualidade de ensino das escolas. As cotas ocultam a defasagem que tem que ser sanada na base. Os alunos deveriam concorrer de igual para igual”, afirma. Barbini ressalta que os bônus, ao contrário da reserva de vagas, seriam uma medida menos injusta. “Você melhora a nota de um aluno, mas não fecha as portas para outro”, avalia.
Professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Julvan Moreira de Oliveira, do grupo Antropologia e Imaginário da Educação, afirma que o país tem uma conta histórica para acertar com camadas mais desfavorecidas. “Pensando apenas nos negros, com o fim da abolição descendentes foram jogados às margens da sociedade. As cotas são uma forma de o país corrigir distorções históricas”, afirma o professor, que não concorda com a redução do nível dos profissionais formados. “Universidades que já adotaram o sistema observaram que esses alunos têm rendimento igual ou superior aos demais”, ressalta.
De lados opostos
"Na minha opinião, o governo deveria melhorar o nível da escola pública desde a base, em vez de privilegiar os estudantes da rede pública. É um preconceito às avessas", Fábia Ciociola, de 19 anos, aluna de escola particular em Lavras, primeiro vestibular |
Também candidata a medicina, Fábia Ciociola, de 19, se mudou de Lavras para a capital para fazer pré-vestibular. Ela é contra a mudança no sistema de cotas aprovada pelo Congresso e diz que o governo federal deveria voltar os olhos para a educação básica, para elevar a qualidade do ensino. “Na minha opinião, o governo deveria melhorar o nível da escola pública desde a base, em vez de privilegiar os estudantes da rede pública, que já entram com 50% de vantagem. Sinceramente, para quem estudou em escola particular e não tem direito a nenhuma cota está ficando difícil demais passar em medicina. É um preconceito às avessas”, afirma a jovem, que se dedica aos estudos de oito a nove horas por dia. “Já prestei o exame no Rio, em São Paulo e no Paraná, mas ainda não consegui a vaga. Vou tentar nas particulares, porque o acesso à UFMG ficou impossível.”
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