quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

ATENÇÃO, JOVENS DE 15 A 34 ANOS. Crescem no Brasil mortes por AVC entre 15 e 34 anos

Crescem no Brasil mortes por AVC entre 15 e 34 anos
Luciane Evans -
Publicação: 27/02/2013 08:38 Atualização:

Renata Monteiro foi vítima de um AVC aos 21 anos. A mãe, Rosa, conta que a filha saiu tetraplégica do hospital, mas não perdeu o raciocínio (Leandro Couri/EM/D.A Press)
Renata Monteiro foi vítima de um AVC aos 21 anos. A mãe, Rosa, conta que a filha saiu tetraplégica do hospital, mas não perdeu o raciocínio

Principal causa de morte no país, com números de óbitos maiores que a dengue, a Aids e até mesmo o câncer de mama, o acidente vascular cerebral (AVC), também conhecido como derrame, traz novas preocupações, tão ou mais importantes que as antigas. Isso porque o mal, que mata 100 mil brasileiros por ano e antes visto com mais prevalência em idosos, não escolhe a idade de suas vítimas. Dados do Ministério da Saúde mostram que 62.270 pessoas abaixo dos 45 anos morreram no Brasil entre os anos 2000 e 2010. No entanto, o cenário é ainda pior. Jovens, adolescentes e até crianças recém-nascidas passaram a engrossar essa lista e t”em preocupado médicos e pais numa guerra pouco esclarecida e silenciosa. E apesar de as causas terem origens diferentes, os sintomas e as sequelas são os mesmos.

Dados do Ministério da Saúde apontam que, em 2012, 4 mil pessoas entre 15 e 34 anos foram internadas por causa do problema no país. Em 2010, foram 1,7 mil mortes nessa faixa etária. O fenômeno assusta especialistas e, claro, tira o sono dos pais. As justificativas para o quadro alarmante vão desde o resultado de hábitos pouco saudáveis até os métodos atuais de diagnósticos mais precisos, o que contribuiria para o aumento dos números. "O AVC na infância é mais raro do que em adultos. A estimativa é de que haja um percentual de 2,5% a 12,5% para 100 mil crianças e adolescentes", comenta a neurologista infantil e vice-presidente do Comitê de Neuropediatria da Sociedade Mineira de Pediatria, Marli Marra de Andrade.

Aos 13 anos, Guilherme Pessoa Lacorte entrou para a estatística. No início deste ano, ele começou a passar muito mal, com dor na cabeça e vômito. "Assim que o levamos ao hospital, ele entrou em coma. Fizeram muitos exames até descobrir um coágulo no tronco cerebral (parte responsável pelo controle de funções como a respiração e instrução para o coração bater). O diagnóstico foi de AVC", conta o pai de Guilherme, Marcelo Lacorte. A investigação para a causa do problema apontou que o menino sofria de uma má-formação vascular no cérebro, a chamada cavernoma. Como sequelas do AVC, Guilherme ficou um tempo com o lado direito paralisado, sem andar e sem se alimentar corretamente.

Os médicos disseram ser arriscado uma cirurgia para o garoto, que poderia ficar cego ou paraplégico ao se tentar tirar o cavernoma no cérebro. Mas, de acordo com Marcelo, o médico neurocirurgião, especialista na área, Atos Alves de Souza, disse o contrário e operou Guilherme, que hoje está bem, tem sido acompanhado por fonoaudiólogos e fisioterapeutas. "A gente se assusta com uma criança tendo AVC, mas no caso foi consequência de um problema que nem imaginávamos que ele era portador", observa Marcelo.

Segundo o coordenador da Unidade de AVC do Hospital Risoleta Neves, Romeu Santana, o AVC é popularmente chamado de derrame e tem dois tipos: hemorrágico e isquêmico. "O primeiro, muitas vezes, está relacionado à hipertensão. O segundo, que corresponde aproximadamente a 85% dos casos, é a obstrução de umas das artérias do cérebro. O bloqueio pode ser parcial ou total."

Ele explica que em jovem o mal não é comum. "Estamos falando de um problema que, na maioria das vezes, acomete pessoas acima dos 65 anos", destaca. Ele não define o AVC como uma doença, "mas uma complicação de outros problemas. Nos idosos, pode ser decorrência do diabetes, pressão alta ou outros fatores". Para as crianças, pode ser decorrente de comorbidades, como foi com Guilherme. Em muitos casos, de acordo com o especialista, o problema vem da anemia falciforme, enfermidade que causa a má-formação das hemácias. "Saber que um paciente teve AVC é muito pouco para nós. A causa é a peça-chave, pois o tratamento vai depender dela."

Por isso, Marli diz que os pais devem ficar atentos. "As causas podem ser várias, inclusive genéticas. Infecções, meningite ou até mesmo uma sinusite podem desencadear em um processo inflamatório no cérebro", alerta. Nos casos mais agudos, de acordo com a especialista, a criança pode sentir dor de cabeça, vômito e sinais indiretos do aumento da pressão intracraniana, o que pode evoluir para uma paralisia. A agilidade no atendimento é essencial. Isso porque o tamanho do dano que provocará está diretamente associado à sua extensão. Quanto maior a área, mais graves as sequelas. Por isso, quanto mais rapidamente for controlado, menores as regiões atingidas.

Diagnóstico errado

Exemplo disso é Renata Monteiro Moreira César, de 35 anos. Aos 21, ela sentiu muito mal e teve o lado direito paralisado. A família a levou a um hospital particular de BH. "Os médicos plantonistas disseram que se tratava de algo emocional e deram a ela um calmante", conta, indignada, a mãe de Renata, Rosa Marília Monteiro César. A jovem voltou para a casa, mesmo com o lado direito dormente. "Chegou em casa, ela não conseguia segurar uma fruta nem engolir. Passou a embolar a fala, e achamos que era efeito do calmante", lembra Rosa. No outro dia a menina não acordava.

Um médico amigo da família a visitou e constatou que ela tinha entrado em coma. "Ela foi levada para o centro de terapia intensiva (CTI) de outro hospital da capital, e ficava cada vez pior. Os médicos não sabiam do que se tratava. Demorou quatro dias para diagnosticar o AVC", diz. A demora aumentou a lesão. Renata saiu do hospital tetraplégica. "Graças a Deus, não afetou o raciocínio dela. Hoje ela está na faculdade, escreveu o livro A vida com outros olhos, consegue comer sozinha, mas tem uma equipe de profissionais que a ajuda", destaca a mãe. "A demora para diagnosticar o mal é crucial, pois a evolução é muito rápida."

Recuperação

O tratamento de um paciente com AVC, seja ele adulto ou jovem, vai depender do que levou a pessoa a sofrer o derrame. Romeu Santana diz que no caso de um derrame isquêmico, há a possibilidade de medicações que podem dissolver os coágulos. "Mas não são todos os pacientes que podem usar o remédio. A medicação abre os vasos sanguíneos, mas pode causar sangramento.”

Ele diz que toda vítima tem possibilidade de sofrer novamente um derrame. "Por isso, a causa tem que ser bem definida." Os médicos aconselham como prevenção a atividade física, uma alimentação saudável, redução no consumo de gordura, o que reduz risco de doenças vasculares. "No primeiro ano de vida, os pais costumam levar os bebês aos pediatras e depois que a criança toma todas as vacinas, não a levam mais. É importante esse acompanhamento, porque nele pode-se diagnosticar uma doença", ressalta Marli.

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