domingo, 30 de junho de 2013

Conjunto arquitetônico do Estadual Central, em Belo Horizonte, vai passar por restauração Escola Professor Milton Campos, obra de Oscar Niemeyer, ganhará novos ares; prédios tombados pelo Iphan receberão recursos de R$ 12 milhões

Conjunto arquitetônico do Estadual Central, em Belo Horizonte, vai passar por restauração Escola Professor Milton Campos, obra de Oscar Niemeyer, ganhará novos ares; prédios tombados pelo Iphan receberão recursos de R$ 12 milhões

Pedro Ferreira
Publicação: 13/06/2013 15:00 Atualização: 13/06/2013 15:32
Traços que remetem ao ambiente escolar: o prédio das salas de aula é uma régua, o giz virou caixa-d’água, a cantina tem forma de borracha e o auditório, um mata-borrão (instrumento que servia para secar o excesso de tinta no papel). O conjunto da Escola Estadual Professor Milton Campos – o Colégio Estadual Central –, criação do arquiteto Oscar Niemeyer, vai passar por reformas. Localizados na Rua Fernandes Tourinho, no Bairro de Lourdes, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, os prédios da instituição de ensino são tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para resgatar as características do projeto original, de 1956, serão investidos R$ 12 milhões. A previsão é que tudo fique pronto em um ano e meio.


O vice-diretor, João Martins Braga, trabalha na Milton Campos desde 1990 e não se lembra de quando foi a última reforma. "Tivemos alguns arranjos há oito anos no auditório em parceria com um banco e fizemos adequações para o atendimento do ensino fundamental, em 1990", disse. Segundo Braga, o telhado está cheio de vazamentos e a água da chuva passa pela laje. A rede elétrica é ultrapassada e não suporta a carga dos novos equipamentos. A cantina, onde são preparadas refeições para mais de 3,2 mil alunos, também sofre com a ação do tempo. Vidros quebrados em portas e janelas põem em risco a segurança dos estudantes. "Essa reforma veio numa boa hora. Vai melhorar as condições ambientais da escola. Só pintar as paredes não resolve. Tem que ser uma reforma profunda", afirmou o vice-diretor.

Tão importante quanto a arquitetura é a história da escola. Ela foi aberta em 5 de fevereiro de 1854, com a instalação do Liceu Mineiro em Ouro Preto, na Rua do Rosário, primeiro estabelecimento de ensino público de Minas Gerais. São 148 anos. Com a mudança da capital para Belo Horizonte, a escola também foi transferida para atender os filhos dos funcionários públicos. "Primeiro, ficou provisoriamente na Praça Afonso Arinos, depois na Rua da Bahia e na Avenida Augusto de Lima", contou Braga. A instituição também mudou de nome. Primeiro foi o Liceu Mineiro, depois Colégio Mineiro até Milton Campos.

Nos bancos das salas de aula já sentaram grandes personalidades. A presidente da República, Dilma Rousseff, é uma delas, aluna na década de 1960. Também tem o cartunista Henfil e seu irmão, o sociólogo Betinho, Elke Maravilha, os atores José Mayer e Marieta Severo, o ex-jogador Tostão, o escritor Fernando Sabino e o ex-presidente do Tribunal Superior Eleitoral Sepúlveda Pertence. Para a cerimônia que marca o início da reforma retornam hoje ao colégio o ex-aluno Alberto Pinto Coelho, vice-governador de Minas, e a secretário de Estado de Educação, Ana Lúcia Gazzola.

INTERIOR Historicamente, muitos alunos saem do interior em busca de um ensino de qualidade no Milton Campos. Na década de 1990, segundo o vice-diretor, era comum famílias mandarem seus filhos para estudar no Estadual Central. "Chegamos a ter mais de 5 mil alunos vindos do interior", disse Braga. E até hoje é assim. Sara Carvalho, de 16 anos, é de Salto da Divisa, no Vale do Jequitinhonha. "Eu me sinto orgulhosa de estar na escola onde estudou a nossa presidente Dilma. O colégio sempre teve uma boa reputação e meu irmão já tinha estudado aqui. Minha mãe insistiu muito para que eu viesse também", conta a aluna.

Para a colega Karen Cristina Rodrigues, de 16, a escola dá oportunidade para a pessoa crescer. "Os professores são atenciosos, a arquitetura bonita, o ambiente é tranquilo e sem violência", destaca. Quando foi para a escola, Francielle Alves, de 16, foi advertida por amigos de que o ensino era muito puxado. "Mas aprendi que todos têm capacidade e o incentivo dos professores ajuda muito. Eles já preparam a gente para o vestibular e muitos já saem daqui direto para a faculdade", disse. Francielle acha importante a restauração da escola para conservar o patrimônio e garantir que outras pessoas possam desfrutar dela no futuro. Os prédios são cercados por uma imensa área verde. Grupos de aluno aproveitam a harmonia do lugar para tocar violão e cantar na hora do intervalo. "Acho o Estadual Central referência para todas as escolas públicas de Minas, pela sua beleza arquitetônica e qualidade do ensino. Os professores passam por várias provas de qualificação e fiquei surpreso com a quantidade de laboratórios, o que não tem nas outras escolas", disse Henrique Gonçalves, de 19, dando pausa no violão

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