domingo, 16 de junho de 2013

Futebol e voto andam de mãos dadas há décadas no Brasil No país da bola, a Seleção Brasileira e os políticos sempre estiveram juntos e renderam episódios célebres, como a doação de fuscas aos tricampeões e as cambalhotas no Planalto

Futebol e voto andam de mãos dadas há décadas no Brasil No país da bola, a Seleção Brasileira e os políticos sempre estiveram juntos e renderam episódios célebres, como a doação de fuscas aos tricampeões e as cambalhotas no Planalto

João Valadares
Publicação: 16/06/2013 00:12 Atualização: 16/06/2013 08:07


Dois momentos da política na esteira do sucesso dos atletas: em 1970, jogadores da seleção recebem Fuscas de presente do estão prefeito de São Paulo, Paulo Maluf... (Arquivo O Cruzeiro/EM)
Dois momentos da política na esteira do sucesso dos atletas: em 1970, jogadores da seleção recebem Fuscas de presente do estão prefeito de São Paulo, Paulo Maluf...
 Brasília – Futebol e política, no Brasil, sempre se cruzaram. Com exceção da eleição presidencial de 1989, todas as outras, com voto direto após a redemocratização, ocorreram em ano de Copa do Mundo. No país do futebol, a política foi responsável por eternizar passagens históricas envolvendo a Seleção Brasileira: cambalhota na rampa do Planalto, a polêmica distribuição de fuscas aos campeões de 1970 e até demissão de treinador considerado comunista. Em 2014, bola e voto se encontram novamente. Na história política brasileira, jogadores vitoriosos sempre foram recebidos em palácio por um sorriso presidencial, estratégia para vincular de maneira positiva a imagem do governante ao sucesso alcançado pelo país no gramado. Até agora, a presidente Dilma Rousseff tem aproveitado as inaugurações das arenas para intensificar a pré-campanha rumo à reeleição. Com os estádios praticamente prontos, o tema entra no debate eleitoral. A cada chute inaugural, a mensagem implícita de que o Brasil tem força para sediar uma grande evento mundial.

Em 2002, no governo do presidente FHC, o pentacampeão Vampeta dá cambalhotas na rampa do Planalto (GILBERTO ALVES/CBPRESS )
Em 2002, no governo do presidente FHC, o pentacampeão Vampeta dá cambalhotas na rampa do Planalto
 O cientista político Rafael Cortez diz que hoje o desempenho da Seleção Brasileira não interfere de maneira significativa no processo eleitoral. “Acredito que, em todo caso, a Copa do Mundo em si não é determinante para vitória ou derrota de um determinado candidato. O Brasil já perdeu várias copas e isso não afetou de nenhuma maneira o resultado eleitoral. Mas a Copa é sempre uma oportunidade de se gerar para o governo uma imagem positiva. Claro que, em 2014, isso será potencializado”, acredita.
 No período da ditadura, a Seleção Brasileira era utilizada como instrumento de propaganda política do regime. Em 1970, o jingle nacionalista dos “90 milhões em ação” embalava o país, que só tinha o direito de gritar livremente num gol brasileiro. O presidente Emílio Garrastazu Médici, que recebeu Pelé em Brasília após o jogador balançar as redes pela milésima vez, em 1969, chegou até a tentar interferir na escalação do time de 1970. Rumores apontavam que Médici queria a entrada de Dadá Maravilha.
 O técnico João Saldanha, tachado de simpatizante do comunismo, reagiu com a famosa frase. “O presidente escala o ministério dele e eu escalo o meu time.” Não deu outra. Saldanha caiu. Mário Jorge Lobo Zagallo conquistou o tricampeonato no México. Na volta ao Brasil, com a taça Jules Rimet nas mãos, Médici recebeu os jogadores. Paulo Maluf, prefeito de São Paulo na época, premiou cada atleta e integrantes da comissão técnica com um Fusca. Foram 25 veículos. O gesto fez com que o político respondesse a processo. Em 2006, ele foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal.
 Plano Real  Em 1994, quando o Brasil ganhou a Copa do Mundo após 24 anos, o presidente da República era Itamar Franco. No ano seguinte, Fernando Henrique Cardoso, embalado muito mais pelo sucesso do Plano Real do que pelos gols de Romário, chegou à Presidência da República. Em 2002, ele viu o jogador Vampeta, um dos campeões, dar cambalhotas na rampa do Planalto. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já recebeu clubes brasileiros em palácio após conquistas importantes, não teve sorte. Durante as duas gestões, a Seleção Canarinho não conseguiu passar das quartas de final. Mesmo assim, o presidente sempre teve sucessivos índices elevados de aprovação.
 A presidente Dilma Rousseff não é fanática por futebol, mas, com a proximidade da Copa do Mundo, tem feito um esforço para demonstrar mais intimidade com o assunto. A relação da presidente com o esporte começou ainda em Minas, com o pai, Pedro Rousseff. Na inauguração do Mineirão, no fim do ano passado, a petista relatou a experiência com o estádio e mostrou familiaridade com os ídolos que nasceram no estado. “Eu, pessoalmente, conheci aqui o futebol. Foi nesse gramado que grandes nomes do esporte se projetaram: Tostão, Piazza, Reinaldo, Dirceu Lopes, Dario, o Dadá Maravilha, e nosso querido – é bom sempre lembrar – Ronaldo Fenômeno, que saiu de Minas e se apresentou ao Brasil e ao mundo”, lembrou. Naquele dia, relatou a primeira vez que ela, atleticana, pisou no Mineirão, “há mais de 50 anos”. No evento, a presidente chegou a colocar o boné de uma torcida organizada do Cruzeiro. A gafe foi alvo de piadas entre torcedores. Ela também torce pelo Internacional, de Porto Alegre.

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