segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Custo de vida no interior já é maior que em BH Cidades mineiras que têm índices próprios registram avanço em 2012 e variações maiores que as da capital. Em Lavras, custo de vida subiu 11,82%. Em Viçosa, alta foi de 10,17%

Custo de vida no interior já é maior que em BH Cidades mineiras que têm índices próprios registram avanço em 2012 e variações maiores que as da capital. Em Lavras, custo de vida subiu 11,82%. Em Viçosa, alta foi de 10,17%

Marta Vieira
Luiz Ribeiro
Publicação: 18/02/2013 06:00 Atualização: 18/02/2013 07:37

Marley Esteves da Silva reclama da baixa concorrência em Uberlândia (Marcos Adriano/Correio de Uberlândia)
Marley Esteves da Silva reclama da baixa concorrência em Uberlândia
O compasso dos preços que assusta o consumidor da Região Metropolitana de Belo Horizonte sacrifica a população do interior de Minas Gerais numa intensidade ainda maior. Sob pressão dos alimentos, serviços pessoais e de transporte mais caros, o fôlego da inflação de 2012 surpreendeu com as maiores altas dos últimos cinco anos em Lavras, no Sul do estado, e em Uberlândia, no Triângulo. Desde 2009, os moradores de Montes Claros, no Norte de Minas, e Viçosa, na Zona da Mata, não sentiam a força das remarcações observadas no ano passado. Nas quatro cidades que têm índices próprios de preços, apurados pelas universidades locais, os IPCs (índices de preços ao consumidor) fizeram sombra ao IPCA e ao INPC da Grande BH, indicadores oficiais medidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A despeito das diferentes metodologias de pesquisa e do tamanho da coleta de preços, fatores que ajudam a explicar as variações, a inflação voltou a ser motivo de preocupação no interior. Em Lavras, o IPC medido pela universidade federal do município, a Ufla, alcançou 11,82% em 2012, influenciado pelo encarecimento da comida dentro e fora de casa, dos itens de higiene pessoal e limpeza doméstica e dos gastos com vestuário. Viçosa ficou na vice-liderança, graças à inflação de 10,17% retratada pela UFV, seguida de perto pela variação de 8,52% apurada pela Unimontes em Montes Claros (veja o quadro).

Maria do Carmo Lopes, de Montes Claros, tenta garantir o que é básico (Danilo Evangelista/Esp. EM)
Maria do Carmo Lopes, de Montes Claros, tenta garantir o que é básico
A estiagem prolongada no Norte do estado obrigou o município a “importar” alimentos de outras regiões, adicionando o custo do frete das mercadorias aos preços já mais altos. Com essa combinação perversa surgiram vilões, a exemplo do feijão, que encareceu 40% ao longo do ano passado, destaca a economista Vânia Vilas Boas, coordenadora do IPC apurado pelo Departamento de Economia da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). “O aumento do custo do transporte pesou bastante, além da influência da forte seca que castigou a região”, afirma. Os 13 alimentos que compõem a cesta básica na cidade encareceram 15,84%, ante 7,57% em 2011.

O IPC de Montes Claros retrata os gastos das famílias com renda entre um e seis salários mínimos, a partir da coleta de preços de 5 mil itens, entre produtos e serviços. A inflação histórica justifica o desabafo da professora Maria do Carmo Lopes, de 48 anos, num supermercado da cidade. “Na velocidade com que os preços estão subindo, não teremos mais condições de comprar nem o arroz e o feijão, alimentos básicos. O salário não acompanha os aumentos”, protesta.

Para o publicitário Flavio Gomes Freitas, shoppings já estão mais vazios ((Marcos Adriano/Correio de Uberlândia) 
)
Para o publicitário Flavio Gomes Freitas, shoppings já estão mais vazios
Outra dificuldade enfrentada em boa parte do interior, como em Lavras, é a falta de um sistema local de abastecimento, associada à concorrência menor no varejo, avalia Ricardo Pereira Reis, coordenador do IPC medido pelo Departamento de Administração e Economia da Ufla. O indicador é estruturado sobre pesquisa própria de orçamentos familiares de 350 famílias do município de todas as classes de renda e no levantamento de 7,7 mil preços. “O custo da logística e do frete do transporte encareceu os preços ao consumidor”, afirma. A cidade de 91,3 mil habitantes é abastecida pelos entrepostos de Contagem da Ceasa Minas, distante mais de 240 quilômetros, e da Ceagesp, de São Paulo (a 378 quilômetros).

NOVO APERTO A evolução dos preços dos serviços públicos, a exemplo de combustíveis e energia, aqueles chamados preços administrados pelo governo, também faz diferença nos IPCs, seja das regiões metropolitanas, seja do interior. Em Uberlândia, a população que sofreu as consequências da farta inflação de 2012, puxada pelas despesas com empregado doméstico, os serviços de entretenimento e os alimentos, enfrenta nova alta em janeiro, de 1,68%, puxada pelo transporte público mais caro, conforme apontou o IPC medido pelo Centro de Pesquisas Econômico-Sociais do Instituto de Economia da UFU. “A demanda aquecida de consumo favorece a manutenção dos preços. Tudo indica que não haverá queda dos preços dos alimentos nos próximos meses”, afirma o economista Carlos Diniz, responsável pelo indicador, que retrata as despesas das famílias com renda até oito salários mínimos e coleta de 30 mil preços.

Clique na imagem para ampliar
Clique na imagem para ampliar
A percepção não poderia ser diferente entre os moradores da cidade, que é polo do setor de prestação de serviços no estado. Como consumidora e comerciante do mercado de pneus, Marley Esteves da Silva, de 47, vive nas duas pontas as pressões dos preços. “A cidade tem boas redes supermercadistas, mas não há justificativa para a falta de concorrência. Os preços são muito parecidos e a reclamação é generalizada. Como comerciante, não tenho condição de deixar de repassar o aumento de preços (entre 7% e 8%) aos clientes, a maioria frotistas”, afirma. O publicitário Flávio Gomes Freitas, que também vive em Uberlândia, observou o esvaziamento dos shopping centers e viu retração na demanda de serviços no ramo em que atua. “A inflação preocupa, é claro. Começamos 2013 com uma ligeira elevação nos preços de material escolar, gasolina e cesta básica”, afirma. (Colaborou Simone Lima)

Mau começo


O que parecia mau agouro se confirmou no mês passado. A inflação prosseguiu em alta, liderada pelos alimentos e bebidas , despesas pessoais, saúde e cuidados pessoais. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que subiu em sete das 11 regiões metropolitanas pesquisadas pelo IBGE, alcançou 0,86% em janeiro, ante 0,79% em dezembro. Foi a maior taxa mensal desde abril de 2005. Na Grande BH, o IPCA variou 0,73%, depois da elevação de 0,52% em dezembro. Movimento idêntico seguiu o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) referente às famílias com renda de um a cinco mínimos. Em janeiro, atingiu 0,79% na região metropolitana da capital mineira, frente 0,50% em dezembro. (MV)

Nenhum comentário: