sábado, 28 de abril de 2012

Basílica de Lourdes completa 90 anos em 2013 e mantém tradição de templo católico

Basílica de Lourdes completa 90 anos em 2013 e mantém tradição de templo católico




Gustavo Werneck -



Publicação: 28/04/2012 07:00 Atualização: 28/04/2012 06:59





Maio, mês das noivas. E a maioria delas, pelo menos em Belo Horizonte, tem outro desejo, além do de ser feliz para sempre: casar na Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, mais conhecida como Igreja de Lourdes. Mas quem tem esse sonho vai ter de esperar com paciência para entrar de véu e grinalda no templo neogótico inaugurado em 1923, afinal, datas disponíveis, para qualquer época do ano, só em 2014, devendo a cerimônia ser marcada a partir de dezembro. Interesse e encantamento tão grandes têm a ver com a beleza da igreja, a tradição que passa de mãe para filha e contagia os futuros maridos, o tamanho adequado para receber padrinhos e convidados e localização central (Rua da Bahia, 1.596, no Bairro de Lourdes).



Olhando bem a arquitetura do prédio, com suas torres e tons claros, vê-se que outros motivos de atração, sem dúvida, residem na fé que o lugar inspira e na história da basílica, que começa a preparar a festa de 90 anos – o ponto alto será em 19 de março – e agrega milhares de devotos em torno da sua padroeira. Uma viagem no tempo serve para contar a trajetória do templo, em cujo terreno, no fim do século 19, havia uma capelinha na qual se venerava Nossa Senhora de Lourdes. Para alegria dos católicos, em 24 de junho de 1900 chegava de Paris uma imagem da santa – a mesma que está na gruta construída com pedras de minério e recria o ambiente em que, em 1858, por 18 vezes, a Virgem Maria teria aparecido para a jovem Bernadete Soubirous, na França.



De acordo com o livro Basílica de Lourdes, editado pela paróquia, em 12 de julho de 1911 o arcebispo de Mariana, dom Silvério Gomes Pimenta, concedeu aos missionários claretianos o uso perpétuo da capela. Até então, a capital estava vinculada à Diocese de Mariana. No mês seguinte, chegavam à cidade os primeiros missionários, entre eles o padre Sebastião Pujol, que seria nomeado em 1923 o primeiro vigário da paróquia. Com o firme propósito de construir uma igreja, o grupo trabalhou duro até que a pedra fundamental fosse abençoada em 3 de maio de 1916.



A data que os religiosos consideram marco da história da basílica é 19 de março de 1923, quando o primeiro bispo de BH, dom Antônio dos Santos Cabral (1884–1967), assinou portaria criando a paróquia. Antes mesmo da construção, tal era o entusiasmo dos claretianos que o padre Ozamis declarou à Revista de Lourdes: “Aqui nesta santa colina, onde a Virgem Maria quis assentar o seu trono, deverá levantar um vasto templo, se for possível grandiosa basílica, pois, como disse-o há pouco uma voz responsável, a capela de Lourdes não é uma figura decorativa da capital, é uma necessidade social”. A primeira missa foi celebrada em 25 de dezembro de 1922, quase um ano antes da inauguração.



Para o arcebispo metropolitano de BH, dom Walmor Oliveira de Azevedo, a história da Basílica de Nossa Senhora de Lourdes é mais um exemplo da grande devoção mariana, que caracteriza a cultura do povo de Minas e, em especial, da capital: “A semente que deu origem à paróquia foi uma pequena capela dedicada à santa. Cultivada pela fé, pelo trabalho dos claretianos e de toda comunidade, a semente cresceu e floresceu e se tornou referência, lugar de encontro com Deus e de congregação”.



Estilo



Do lado de fora ou no interior do prédio tombado pelo município, é impossível não ficar impressionado com a imponência da igreja – seus vitrais, órgão musical de tubos, adquirido em 1950, imaginária, sinos, capelas, ornamentos, enfim, todos os detalhes que fazem a festa das noivas. A planta da construção veio de Córdoba, na Argentina, onde havia sido erguida com projeto a cargo do missionário claretiano Echarri, recebendo depois acréscimos, a exemplo de um cruzeiro e duas naves laterais, por Manuel Ferreira Tunis. Com 47 metros de comprimento e 17m de largura, alargando-se para 27m na parte sob o cruzeiro, a igreja tem 20m de altura e torre com 54m e capacidade para 350 pessoas assentadas.



“Celebramos por ano cerca de 250 casamentos”, diz o vigário paroquial da Basílica de Nossa Senhora de Lourdes, padre Antônio Carlos Ribeiro Costa, que trabalha com o pároco Wellington Cardoso Brandão. “A procura é alta para todos os meses”, diz o padre Antônio Carlos, destacando ainda as cerimônias realizadas, como missas e batizados. Rumo ao altar passaram nomes conhecidos em várias décadas, entre eles o ex-goleiro Raul, do Cruzeiro; a ex-embaixatriz Lúcia Flecha de Lima; a senhora de sociedade Helena de Castro, viúva, que foi casada por mais de 50 anos com o professor José Olímpio de Castro; e o ex-jogador do Atlético e Cruzeiro Belletti.



O casal Renaldo e Meire Marilda dos Santos, junto há 35 anos, com três filhos e residente no Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste de BH, não se esquece do dia 10 de janeiro de 1977, uma segunda-feira, em que disse “sim” na frente do padre. “Naquela época, já era difícil casar na Igreja de Lourdes. A gente tinha de esperar muito tempo. A Catedral da Boa Viagem também era muito concorrida. Penso que a tradição fala mais alto”, acredita o empresário Renaldo, lembrando que mais de 60 colegas no curso de química foram à cerimônia. Meire destaca a beleza do templo e reforça o coro de que se casar lá é um sonho de qualquer moça.



SAIBA MAIS: Basílica menor instituída pelo papa



A Igreja de Nossa Senhora de Lourdes foi declarada basílica menor pelo papa Pio XII em 16 de maio de 1958, por meio da bula Praecípua laude. No mundo, as basílicas maiores são quatro: as de São Pedro, São Paulo, Santa Maria Maior e São João de Latrão. De origem grega, a palavra deriva de basileus, que significa reis. Na antiga Pérsia, os soberanos recebiam os súditos em salas enormes que se chamavam basílicas ou salas do rei. A partir do século V, aumentou o número dos cristãos, e para receber os fiéis em orações ou celebrações, começaram a construir grandes templos, aos quais deram o nome de basílica. Hoje, conforme especialisas, o título tem um sentido peculiar, sendo dado a igrejas que preencham alguns requisitos: ter qualidades artísticas e ser centro de concentração religiosa e piedade do povo. Para merecer o reconhecimento, são necessários documento oficial do papa, sagração, coroação da imagem etc. Todas as demais basílicas no mundo são chamadas basílicas menores.



LINHA DO TEMPO



1900 – Em 24 de junho, imagem de Nossa Senhora de Lourdes, hoje na gruta interna da basílica, vem de Paris para Belo Horizonte

1916 – Em 30 de março, bênção da pedra fundamental da Igreja de Lourdes pelo primeiro bispo de BH, dom Antônio dos Santos Cabral (1884-1967)

1923 – Em 19 de março, dom Cabral assina o documento de criação da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes

1923 – Em 13 de maio, toma posse o primeiro pároco da Igreja de Lourdes, padre Sebastião Pujol

1923 – Em 14 de outubro, inauguração solene da Igreja de Lourdes

1925 – Em 11 de fevereiro, inauguração da gruta com a imagem francesa da padroeira

1958 – Em 1º de novembro, procissão na Praça da Liberdade para comemorar a elevação da Igreja de Lourdes a basílica

1992 – Em 8 de dezembro, celebração festiva do término da restauração da igreja

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