quinta-feira, 5 de abril de 2012

Panes e superlotação complicam a vida de quem depende do metrô em BH Duas novas panes complicam a vida de milhares de passageiros do metrô de BH, que enfrenta dificuldades crônicas, como superlotação, sucateamento e falta de investimentos



Panes e superlotação complicam a vida de quem depende do metrô em BH Duas novas panes complicam a vida de milhares de passageiros do metrô de BH, que enfrenta dificuldades crônicas, como superlotação, sucateamento e falta de investimentos
Junia Oliveira -
Publicação: 05/04/2012 07:05 Atualização:

Demanda pelo transporte metroviário subiu 43% nos últimos cinco anos, em contraste com poucos recursos (Beto Magalhães/EM/DA Press )
Demanda pelo transporte metroviário subiu 43% nos últimos cinco anos, em contraste com poucos recursos


Duas panes em apenas dois dias. Passageiros do metrô de Belo Horizonte precisaram de muita paciência para enfrentar lentidão e atrasos nas estações ontem e terça-feira. O motivo já é um problema conhecido que tem se tornado companheiro das viagens: mais uma falha no sistema. Uma composição para e até retirá-la dos trilhos lá se vão os minutos. E isso tem se tornado rotina. Para quem usa o trem diariamente, para especialistas em trânsito e para o sindicato dos trabalhadores, a situação tem um significado preocupante: sucateamento e falta de investimento, aliado a um ingrediente para lá de perverso – a superlotação. O aumento da demanda de 43% nos últimos cinco anos sem a ampliação do sistema é prova de que algo não vai nada bem.

Por volta das 6h30 de ontem, uma pane numa composição na Estação Vilarinho, em Venda Nova, atrasou toda a sequência de viagens. De acordo com a CBTU, os vagões foram retirados depois de 10 minutos, tempo suficiente para quem esperava o metrô nas outras estações sentirem os efeitos. No Eldorado, a situação ficou ainda mais complicada por causa do aumento dos passageiros já de partida para o feriadão da semana santa. Na noite de terça, uma falha mecânica deixou um trem parado na Estação Waldomiro Lobo, na Região Norte de BH, bloqueando a linha no sentido Vilarinho-Eldorado. A quem esperava pelo embarque, restou apenas sentar-se ou deitar-se nas plataformas até a chegada do transporte.

O metrô de BH opera cerca de 300 viagens por dia, em intervalos que variam de quatro a sete minutos, no pico. Cerca de 6 milhões de pessoas circulam mensalmente pelas 19 estações. Por dia, o sistema recebe em média 200 mil passageiros. Em 2007, segundo dados na página da internet da CBTU, eram atendidas 140 mil pessoas diariamente. Em 2010, esse número já estava na casa dos 170 mil. Aliás, foi exatamente naquele ano que a Diretoria de Planejamento, Expansão e Marketing da companhia anunciou que a capital contaria com a ampliação do número de trens ou a expansão do atual ramal (Vilarinho-Eldorado) até a Copa de 2014.

A promessa era ampliar em 10 a quantidade de composições existentes, obtendo um total de 35, e estendendo o atendimento para 250 mil passageiros por dia. Dois anos depois, o que se vê é nada animador: as 25 composições são as mesmas e o total de passageiros cresceu para 200 mil.

“O problema do metrô de BH se chama falta de investimento. Se não houver modernização dos equipamentos, os problemas tendem a continuar”, adverte a presidente do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais, Alda Lúcia Fernandes dos Santos. “Não há como ampliar a linha 1 (Vilarinho-Eldorado) sem modernizá-la, pois ela não aguenta mais. São trens superlotados, sem climatização e com uma série de problemas estruturais”, afirma Alda.

Segundo ela, a falta de banheiros para usuários, elevadores para pessoas com dificuldade de locomoção constantemente fora de operação, acessibilidade e escadas rolantes que quase nunca funcionam são as principais reclamações de passageiros. Alda ressalta que as panes se tornaram frequentes há dois anos. “Temos que levar em conta a vida útil do equipamento, que está rodando desde o início da operação comercial do metrô, em 1986. O trem mais novo que temos chegou em 1998 para completar a atual frota de 25 composições”, destaca.

MUITAS CRÍTICAS A superlotação e as falhas no sistema metroviário estão na boca dos passageiros. O cozinheiro Márcio Antônio dos Reis, de 51 anos, diz que os problemas são constantes. “Ontem (terça-feira), o metrô parou quatro vezes, por cerca de dois minutos cada, quando eu ia para o trabalho. Sempre explicam no alto-falante que é problema elétrico. Isso ocorre sempre”, conta. Ele embarca às 7h na estação Vilarinho, com destino à Central.

A auxiliar administrativa Adriene Ribeiro de Oliveira, de 26, diz que embarca na Vilarinho com o trem já lotado. Para conseguir sentar, ela vai até o Floramar e retorna para seguir viagem sentada até o Centro. A disputa por espaço é tanta que entrar no metrô é uma aventura e um exercício de paciência. Muitas vezes, chegando às 7h à estação, ela só consegue embarcar 20 minutos depois. “A falta de ventilação nos trens já me fez desmaiar pelo menos três vezes. É uma situação crítica e uma falta de respeito.”

Por meio de nota, a CBTU informou que a frota de trens passa por manutenções de rotina, que envolvem a checagem diária de cerca de 200 itens. Acrescentou que o processo de manutenção preventiva é dividido em duas fases, por dia, num trem.

"Ontem (terça-feira), o metrô parou quatro vezes. Sempre explicam no alto-falante que é problema elétrico", Márcio Antônio dos Reis, cozinheiro


Palavra de especialista

Paulo Monteiro

mestre em transportes e consultor técnico da Locale TT

Sistema velho

“Qualquer sistema está passível de falhas, mas, quando elas começam a ficar recorrentes, há algo por trás disso. Causa relativa ao envelhecimento do sistema ou decorrente de falhas humanas (operação ou manutenção). Um carro velho, por exemplo, está sujeito a problemas, mas se tem manutenção constante, pode ter vida útil maior. O importante é que o responsável por esse sistema dê justificativa plausível para isso. No estado do Rio, ocorrem panes semelhantes, mas poucas no metrô da capital. A maior parte se passa nos trens do subúrbio, mais antigos e com desgaste muito maior. Em São Paulo também tem ocorrido menos que em BH. Independentemente da causa específica, o que sabemos é que há baixo nível de investimento no nosso metrô, além de pouca capacidade de atender as demandas, de manutenção e de infraestrutura. A gestão está longe da realidade de BH, que tem poucos técnicos, que são de baixo e médio escalão.”

Nenhum comentário: