Junia Oliveira -
Flávia Ayer -
Guilherme Paranaiba -
Publicação: 05/11/2012 07:25 Atualização:
Mais de um quarto dos candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em todo o país deixou de fazer as provas no fim de semana. O índice de abstenção desta edição, de 27,9%, divulgado ontem pelo Ministério da Educação (MEC), superou o do ano passado, quando 26,4% dos inscritos não compareceram aos locais de prova e é praticamente idêntico ao de 2010 (28%). A estimativa é de que 4.175.000 participaram da avaliação. O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, garantiu ontem que os dois dias do teste foram marcados pela segurança e a tranquilidade, apesar de incidentes na internet voltarem a ocorrer. “Não tivemos nenhuma fraude até esse momento ou indício de episódio que pudesse arranhar a eficiência do processo”, disse em entrevista em Brasília. O gabarito será divulgado depois de amanhã.
O ministro defendeu ainda rigor na legislação que pune as fraudes contra concurso público e a tipificação do crime, ao mencionar os boatos de cancelamento da prova que circularam pelas redes sociais na semana anterior ao Enem e na manhã de sábado, pouco antes do início do teste. Ele disse que a Polícia Federal está investigando a origem do primeiro caso e vai apurar também a origem do segundo. “Não podemos permitir que um cidadão prejudique milhões de brasileiros. Uma irresponsabilidade dessa gera insegurança e prejuízo grande”, ressaltou.
No segundo dia do Enem, a prova de redação foi considerada a mais difícil entre os candidatos. O tema “O movimento imigratório para o Brasil no século 21”, com destaque para a vinda de bolivianos e haitianos para o país, surpreendeu. As principais apostas eram em assuntos relacionados ao meio ambiente e ao papel da mulher na sociedade. Mercadante informou que os candidatos serão orientados sobre como solicitar as redações. Segundo ele, todos terão acesso ao texto para fins pedagógicos.
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A temida matemática ganhou status de fácil este ano, com questões de muito cálculo, sendo a maioria contas simples e de raciocínio lógico. Em português, as questões de linguística foram o destaque. Candidata a uma vaga em medicina, a estudante Fernanda Lopes Souza, de 17 anos, aluna da Escola Estadual Santos Dumont, em Venda Nova, achou as avaliações de ontem mais fáceis que as do sábado. Ela saiu do câmpus Pampulha da UFMG, onde fez o Enem, confiante na matemática e em linguagens e códigos, mas preocupada com a redação. “Foi um tema que não domino. Faço curso técnico em enfermagem e este ano estou fazendo para teste”, disse.
Estudante de uma faculdade particular, Heitor Vinícius Wacha de Santana, de 19, fez o exame para tentar uma bolsa do Programa Universidade para Todos (Prouni). Ele se submeteu à avaliação pela primeira vez e criticou o modelo. “A ideia do governo é avaliar o ensino médio, mas é incapaz de cumprir esse papel, pois o nível da prova é simplório. Para valer como entrada na universidade, ela deveria ter um nível maior. É mais uma prova de paciência que avaliação de conteúdo”, afirmou.
Um dos primeiros a concluir a prova na Pontifícia Universidade Católica (PUC Minas), o estudante de ciência da computação José Vieira, de 21, que pretende conseguir uma vaga na UFMG, está confiante em seu desempenho. “Achei a prova tranquila, basta estudar”, ressalta. O estudante Arthur Andrade, de 19, considerou a prova de matemática muito fácil, o que pode complicar a situação. “Era só raciocínio lógico e, para superar a concorrência, acho que terei que fechar a prova”, avalia o estudante, que também gostou do tema da redação. “Imigração é um tema bastante estudado no ensino médio”, disse.
INCIDENTES
Nem a punição no primeiro dia da avaliação, que resultou na retirada de 37 candidatos das salas de aula de vários estados do país por terem postado nas redes sociais fotos do cartão de respostas, inibiu novas tentativas de fraudes. Ontem, outros 28 alunos foram eliminados por publicar na internet, depois do horário de início dos testes, imagens do gabarito, da página para rascunho da redação e também da sala de aula. Apesar de os seguranças informarem logo no portão de entrada que é preciso desligar os telefones celulares, em algumas salas da UFMG, por exemplo, candidatos falavam no celular pelos corredores e em frente às salas sem problemas.
Prova de redação causa surpresa entre alunos
No segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), a maioria das conversas dos candidatos envolveu o tema da redação. Cada pequeno grupo que se formava no Centro Universitário Newton Paiva, câmpus do Bairro Buritis, Região Oeste da capital, tentava adivinhar qual seria o tema escolhido. “Tenho certeza de que a redação vai ser sobre o julgamento do mensalão”, diz uma candidata confiante. O colega responde tão certo quanto a amiga. “Não acho que vão pegar um tema tão óbvio. Aposto que vai ser algo sobre sustentabilidade ou Rio+20”, diz o amigo.
Já dentro da sala de aula onde fiz a prova, a chegada de um dos candidatos chamou a atenção dos demais que aguardavam pelo início da prova. Munido de dois litros de refrigerante, ele arrancou gargalhadas tanto dos aplicadores quanto dos demais concorrentes a uma vaga em alguma universidade federal do país. Quando terminei de preencher o cartão-resposta, tive a oportunidade de ouvir algumas conversas de alunos que já tinha terminado o teste. Alguns ficaram descontentes com o tema da redação e outros gostaram. “Imigração? Nunca imaginava que seria isso, não gostei dessa escolha”, reclamava uma jovem. “O MEC surpreendeu, achei legal a opção. Gostei dos textos de apoio”, afirma outro jovem.
O balanço de dois dias de Enem foi positivo. Apesar de a prova ser muito cansativa por conta da redação e mais 180 questões de múltipla escolha, quase todas com um texto, o exame incentiva o candidato a raciocinar. Os textos presentes nos enunciados dão pistas sobre as respostas e representam uma boa ajuda na hora de escolher a alternativa correta.
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