domingo, 22 de julho de 2012

Após dois meses da revitalização, Savassi ganha novos ares e movimento aumenta

Após dois meses da revitalização, Savassi ganha novos ares e movimento aumentaRegião resgata o seu charme e volta a ser o ponto de encontro favorito dos belo-horizontinos e de quem visita a cidade

Thaís Pacheco
Publicação: 22/07/2012 07:30Atualização: 22/07/2012 07:40
O espanhol Jaime Moreno se encantou por Belo Horizonte e pela estudante Renata Araújo. A Savassi é um dos locais preferidos do casal para namorar e para se divertir à noite (Marcos Michelin/EM/DA Press)
O espanhol Jaime Moreno se encantou por Belo Horizonte e pela estudante Renata Araújo. A Savassi é um dos locais preferidos do casal para namorar e para se divertir à noite


O charme e a tradição retornaram. Pouco mais de dois meses depois da conclusão das obras de revitalização, a Praça da Savassi, no Bairro Funcionários, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, voltou a ser o ponto mais procurado pelas pessoas em seus momentos de lazer. Namorados, ciclistas, skatistas, aposentados, executivos apressados em busca de uma refeição rápida, grupos querendo tomar um chope após o estresse de um dia de trabalho, gente de todas as regiões da cidade, do interior e até do exterior, todos encontram na Savassi o local ideal para descansar e relaxar.

Nos quatro quarteirões fechados ao trânsito e exclusivos para a circulação de pedestres, seja de manhã, à tarde ou à noite, o movimento é sempre intenso e os comentários, na maioria dos casos, favoráveis ao espaço, do qual a população belo-horizontina voltou a se apropriar. Alguns vão para passear, outros para encontrar amigos. Há quem trabalhe na região e até quem vá apenas para conferir o que mudou depois da reforma da praça, que durou 14 meses.

Criada em Belo Horizonte, mas há 10 anos morando em Berilo, no Vale do Jequitinhonha, a enfermeira Kátia Machado, de 41 anos, se lembra dos bons momentos da adolescência passados na Savassi e na surpresa ao conferir os novos ares da região. “Venho a BH duas ou três vezes por ano, mas não frequentava a praça por ter programas em outros locais. Desta vez, aproveitei a passagem pela capital para vir aqui. Ficou fantástico. Muito bonito e agradável, pode vir com crianças e ficar à vontade. Agora, sempre que estiver em BH, virei aqui”, disse Kátia.

Acompanhada do marido, dos filhos e de outros integrantes da família, Kátia enfrentou a noite fria de quinta-feira para se sentar na mesa de um dos botecos da Rua Antônio de Albuquerque e matar saudade da região que conheceu na adolescência. Moradora da capital, Elane Machado, irmã de Kátia, falou das mudanças que percebeu na praça. “Tinha mais hippies, darks, a gente não ficava muito à vontade. Antes eu só frequentava um bar. Agora, o ambiente todo me agrada. Vejo mais turistas e moradores da região.”

Happy hour

No outro lado da avenida, um grupo de mulheres que trabalha nas proximidades também encarava o frio em nome do happy hour. Assim como a família Machado, as moças acreditam que o ambiente da região está renovado. “Estamos aqui todos os dias, pois trabalhamos perto. Antes, não costumávamos ficar à noite. Era mais difícil, ficávamos com medo. Agora está mais aconchegante, a iluminação melhor e mudou o perfil dos frequentadores”, diz a bancária Ana Lúcia Brangioni, de 45. A amiga Kely Camargos concorda e celebra: “Agora vem mais o pessoal do happy hour, saindo do serviço”, afirma.

Quem já frequentava a noite “savassiana” aponta outros motivos para a mudança do ambiente, além do maior espaço para mesas, cadeiras e pessoas, em vez de carros. “Trabalho aqui e sinto que a turma já mudou antes mesmo da reforma. Foi mudando conforme os bares foram fechando as portas, com o Iô-iô, que tinha um pessoal mais alternativo, e o James, que tinha sinuca e era frequentado por emo, punk, roqueiro, pagodeiro. Agora são outras boates e bares e ficou mais boêmio, além de ter virado um ponto de happy hour de quem sai do trabalho” destaca o tatuador Leonardo Avelar, de 21.

Durante o dia, ele também sentiu uma mudança na loja em que trabalha. “Tem um público bem diverso. Ainda vem o pessoal mais underground, mas sinto que deu uma modificada. Tem mais gringo, turistas, amigo de intercambista que vem passear”, diz.

Da Espanha

O espanhol Jaime Moreno, empreendedor social de 27 anos, foi apresentado à Savassi quando a praça estava em obras. Ficou em BH até julho de 2011, para concluir o doutorado. Agora, voltou e conferiu as mudanças. “Acho que fizeram muita bagunça para o que foi a mudança real. As ruas são bacanas, as fontes agradáveis, mas foi muito pensado para quem caminha, podiam ter pensado em todos. Mas gostei”, conta Moreno.

Além da Savassi, um dos motivos que o fez voltar a BH foi a estudante Renata Araújo, de 22, que conheceu na capital. O casal se embalou no clima da noite para namorar e também notou a diferença. “A Savassi é conhecida pelos bares e agora sim temos mais espaço para todos aproveitarem. Acho que ficou mais estilizado e vejo um pessoal mais velho”, garante Renata.

Durante o dia, praça convida para um bom passeio, como fizeram Marlise, Thaiza e Maria José (Cristina Horta/EM/DA Press)
Durante o dia, praça convida para um bom passeio, como fizeram Marlise, Thaiza e Maria José


Boa leitura e um cafezinho

Mas nem de longe a Savassi é feita só da noite. Casais, famílias e jovens são vistos por lá à luz do dia. O que muda são os objetivos, que vão além de se encontrar e sentar no bar. O estudante Lucas Rezende, de 21, frequenta a região pela praticidade. Por lá encontra livrarias, lugares para comer e atrações para passar o tempo. Enquanto esperava uma pessoa após o almoço, sentou-se em uma cadeira do quarteirão fechado da Rua Pernambuco e começou a ler.

A mudança de turma parece mesmo ser mais sentida pelo pessoal da noite. A técnica em turismo Elizabeth Rodrigues, de 55, sempre passa por lá. Moradora do vizinho São Pedro, costuma ir à região apenas durante o dia. Ela e a filha foram à escola de inglês e aproveitaram para dar uma volta. “A nova praça ficou legal, mais agradável, mas não senti mudança na frequência”, diz Elizabeth. E os motivos são os mesmos: “É gostoso. Tem lojas, cafezinho, livros, tudo perto”, explica.

Os turistas são vistos em todos os horários. Antônio Carlos Machado, aposentado, veio de Visconde do Rio Branco, na Zona da Mata, visitar o local pela primeira vez. “É muito bom aqui. Viemos almoçar, passear e o ambiente é legal”, diz o pai de Simone Dias, de 29, assistente social que se mudou do interior para BH há três meses. Moradora do Bairro Calafate, também veio conhecer o bairro. “A gente que vem do interior ouve muito falar sobre violência, mas aqui é bem tranquilo”, diz.

Passeando com a avó e tomando um sorvete, o belo-horizontino Augusto Ducznal, de 10, não pensa duas vezes antes de dizer o que mais gosta na Savassi: “a nova fonte”. A vovó, dona Ivone, acha o lugar ideal para passear e diz que melhorou após a reforma. “Está mais espaçoso, mais limpo e é um lugar tranquilo para andar”, resume.

Um lugar descolado

Andréa Castello Branco

No início da década de 90, a Savassi era o lugar mais descolado e charmoso de BH. Os melhores bares, as vitrines mais legais e a turma mais bonita da cidade se reunia nos quatro cantos da praça e seus arredores. Para quem estava no auge da adolescência, como eu, perambular pela região já era em si uma diversão. As “modernidades” importadas de São Paulo, dos EUA ou da Europa chegavam primeiro por lá, como o Cachorrico, lanchonete especializada em cachorro quente, onde o cliente montava o próprio sanduíche com a opção de salsicha no molho ou grelhada e diversos complementos, hoje obrigatórios em qualquer carrinho de hot dog. Ou o espaguete a quilo com a opção de quatro molhos – à bolonhesa, de quatro queijos, de frango ou ao sugo. Sucesso absoluto a um preço módico que cabia no curto orçamento dos estudantes. Na Savassi também estavam os restaurantes caros, mas esses eram para os adultos e eu apenas admirava as mesas montadas com taças de cristal e talheres de prata. O charme do bairro era reforçado pela sensação de segurança: ninguém tinha medo de andar às duas da manhã em ruas como a Antônio de Albuquerque ou ficar no ponto de ônibus de madrugada. Se a revitalização da Savassi pode trazer algo de bom é isso, devolver a região para o desfrute da população.

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