Marta Vieira
Paulo Henrique Lobato -
Pedro Rocha Franco -
Publicação: 29/07/2012 07:04 Atualização:
Longe do radar dominado pelas projeções sombrias dos analistas de bancos e corretoras indicando baixas taxas de crescimento do país neste ano, empresas e investidores de segmentos importantes da economia mantêm planos de crescer e se aproveitar do ambiente de indicadores ainda positivos de emprego e renda em Minas Gerais. Nessa porção do estado que dribla os efeitos da crise externa principalmente sobre a produção da indústria, há casos de prosperidade nos ramos de alimentos e bebidas, construção civil, fabricação de calçados e acessórios, nos serviços de telecomunicações e na extração de minerais. São investimentos que abrem novas oportunidades em boa parte dos polos mais desenvolvidos de Minas, do Noroeste ao Triângulo, passando pelo Centro-Oeste e a Região Central.
A indústria de alimentos investe em criatividade e inovação e confia no consumo das famílias para continuar avançando |
Patrocínio, no Noroeste de Minas, poderia ser classificada como uma dessas ilhas de expansão. Campeã na geração de empregos em junho, a cidade parece desconhecer os índices que vêm mostrando o desaquecimento da economia brasileira, com base na queda da produção industrial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do nível de confiança dos empresários, conforme pesquisas recentes da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Sócio de uma construtora e de um posto de combustíveis no município, João Batista da Silva não vê motivos para deixar de ampliar os negócios. “Nos últimos dois anos, construímos mais de 2 mil moradias”, conta o empresário, que inaugurou em janeiro uma loja de material de construção. Agora, decidiu aplicar R$ 8,5 milhões para erguer na cidade um hotel com 84 apartamentos e 12 suítes, que será inaugurado no ano que vem.
Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, os serviços de telecomunicações são exemplo de um setor que não pode parar os projetos de expansão, respondendo por quase 5% da população empregada da cidade. Há 11 anos, André Luiz Abadio era fatiador de frios em um supermercado local, mas sonhava com dias melhores fora das câmaras frigoríficas. Por isso, aceitou o salário inicialmente menor e ingressou num call center. De lá para cá, foi promovido três vezes e, atualmente, gerencia uma equipe com quase 650 funcionários. Aos 31 anos, para os padrões brasileiros de profissionais com ensino médio completo, ele se considera uma espécie de milionário, com o salário mensal de R$ 7 mil. "Sou apaixonado pelo trabalho com gente. Todos os dias sou o primeiro a chegar e o último a sair da empresa", afirma.
Belo Horizonte não fica atrás em matéria de oportunidades de trabalho. A capital mostrou em junho um saldo de 1.250 empregos formais, um acréscimo de 0,12% frente ao estoque de empregados de dezembro do ano passado, ocupando a segunda posição do ranking de municípios com mais de 30 mil habitantes que mais criaram vagas no estado. O setor de serviços e a construção civil foram os que mais contribuíram para o resultado também positivo no ano e nos últimos 12 meses. Embora algumas construtoras estejam revendo os lançamentos, a atividade deverá repetir o crescimento de 5% verificado em 2011, segundo Luiz Fernando Pires, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Minas Gerais (Sinduscon-MG).
“A redução dos lançamentos está dentro do esperado. Independentemente do desaquecimento da economia, teremos um desempenho melhor que a média da economia”, afirma. A atividade já vinha apresentando um ritmo forte de crescimento, favorecido pela oferta de crédito e o programa federal Minha casa, minha vida, de incentivo às moradias populares.
Fernando Pires lembra que em Belo Horizonte, até 2004, as empresas conseguiram aprovar 800 mil metros quadrados de metragem para construção. Nos últimos sete anos, foram aprovados 5 milhões de metros quadrados por ano. Na esteira do setor, a indústria de material de construção também mostra índices positivos de faturamento, com base nos indicadores da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). De janeiro a maio, a receita do segmento teve ligeiro aumento de 0,30%, apresentando acréscimos em todas as bases de comparação neste ano, com destaque para 8,59% sobre maio de 2011.
MAIS GÁS O tradicional aquecimento da economia no segundo semestre, com a maior circulação de dinheiro estimulada pelo décimo terceiro salário, se junta à expectativa de que as medidas adotadas pelo governo federal para reanimar a indústria surtam efeito. Esse é o cenário que pode levar a resultados melhores para o conjunto da indústria mineira, observa Lincoln Gonçalves Fernandes, presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg. “O segundo semestre tende a ser melhor, sem dúvida, mas por melhor que seja fica a pergunta se vamos conseguir salvar o ano”, diz.
A Fiemg acompanha as projeções de crescimento de 1,5% da economia brasileira neste ano, mas já considera uma retração no faturamento global do setor. Lincoln Fernandes destaca entre os ramos menos afetados pela crise as indústrias do cimento, de material de construção e de alimentos, além de parte dos fabricantes de calçados e couro, que têm conseguido contornar a pressão dos concorrentes estrangeiros no mercado nacional.
Palavra de especialista
Plínio de Campos Souza, coordenador técnico da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) pela Fundação João Pinheiro
Segundo semestre será decisivo
“Ainda é cedo para imaginarmos como será o comportamento do mercado de trabalho até o fim do ano. Entre as regiões metropolitanas que a PED abrange, só as de São Paulo e Salvador tiveram uma pequena elevação do desemprego em junho (a pesquisa feita junto ao Dieese inclui, além da Grande BH, Porto Alegre, Fortaleza, Recife e o Distrito Federal). A nossa expectativa é de que os próximos meses tragam um período mais favorável conforme surtirem efeito as medidas adotadas pelo governo federal para reanimar a economia. E não podemos nos esquecer de que em alguns segmentos da atividade econômica existe escassez de mão de obra. Como o segundo semestre é mais aquecido, deverá também contribuir positivamente. Quanto aos rendimentos (os vencimentos relativos a maio sofreram queda de 2,1% na Grande BH frente a abril), esperamos que o mercado que alçou as classes de menor renda à condição de consumidoras permita que elas tenham longevidade nessa condição. Na Grande BH, o salário médio dos 25% de trabalhadores mais ricos tem caído, mas ainda há aumento de 0,5% nos rendimentos dos 25% a 50% mais pobres.”
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