domingo, 22 de julho de 2012

Mais de 500 mil consumidores ficaram sem luz em MG por causa de papagaios na rede elétrica.

Mais de 500 mil consumidores ficaram sem luz em MG por causa de papagaios na rede elétrica.
Papagaios perto da rede elétrica interromperam fornecimento de energia 1,868 vezes de janeiro a junho
Guilherme Paranaiba -
Publicação: 22/07/2012 07:23Atualização: 22/07/2012 07:48
Nas lajes de bairros da periferia de Belo Horizonte a cena é comum: jovens empinando pipas próximo dos cabos da Cemig (Túlio Santos/EM/DA Press)
Nas lajes de bairros da periferia de Belo Horizonte a cena é comum: jovens empinando pipas próximo dos cabos da Cemig


Época de férias escolares significa céu colorido. As pipas e papagaios que riscam o horizonte representam a alegria de crianças e adolescentes e lotam praças e parques. Mas se por um lado a prática comum nos recessos das escolas é um hábito inofensivo, por outro liga o alerta para o perigo de brincar perto da rede elétrica. Dados divulgados pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) mostram que de janeiro a junho o fornecimento de energia foi interrompido 1.868 vezes no estado por causa de linhas, rabiolas, bambus e outros pedaços de pipas enroscados nos cabos elétricos. Isso significa que a cada dia são 10 desligamentos, que já prejudicaram mais de 550 mil consumidores. Em Belo Horizonte, é possível perceber que muita gente não se preocupa com os perigos e prejuízos e empina papagaios perto da fiação elétrica. Há ainda quem se preocupe e procure lugares abertos, livres dos ricos de acidentes.

Nos bairros da Região Leste da capital é possível ver dezenas de crianças e adolescentes em cima das lajes, buscando o melhor espaço para brincar de pipa. Para muitos, o fato de a rede elétrica estar um pouco abaixo do local que conseguem chegar significa que não há riscos. Mas basta aguardar um pouco para ver uma pipa se enroscar em cabos que muitas vezes podem ser de serviços como telefonia ou internet, mas também podem ser de energia elétrica. “Nesse caso, elas correm risco de algumas maneiras. Quando a pessoa puxa a linha para tentar soltar a pipa ela pode aproximar um cabo do outro e diminuir a resistência. É nessa hora que ocorre o curto-circuito, que pode estourar um fio e ferir quem estiver por perto”, informa o engenheiro da Cemig Ricardo Damasceno.

Outra situação de perigo ocorre quando o dono da pipa aproxima algum objeto da rede elétrica para alcançar seu papagaio. “Se o objeto for metálico, ele se torna um condutor e a pessoa toma um choque”, acrescenta. Ainda segundo o engenheiro, outro problema sério é o uso do cerol. “Muitos estão empinando pipas com um tipo de cerol feito com pó de ferro. Nesse caso, basta a linha com esse material enroscar na rede para a pessoa ser eletrocutada”, completa Damasceno.

Em janeiro, foram 470 desligamentos no estado, mas com o fim da férias, esse número foi abaixando significativamente, chegando a 140 em abril. Em maio, os números voltaram a crescer, com 199 ocorrências. Em junho, os registros bateram a marca de 529 interrupções, sendo que a expectativa é que julho seja ainda maior, já que as crianças e adolescentes estão de férias nesse período. Apesar do número de desligamentos por papagaios representar apenas 1,4% do total em 2012, os acidentes causados podem ser muito graves e até levar à morte.

Ana Mel e o pai soltam pipa em segurança, longe dos fios de energia (Túlio Santos/EM/D.A Press)
Ana Mel e o pai soltam pipa em segurança, longe dos fios de energia


Com segurança

No Parque Ecológico da Pampulha, muita gente brincava de maneira segura, soltando papagaios bem longe da rede elétrica. O auditor fiscal Evaldo Guimarães Barbosa, de 60 anos, aproveitou o sábado ensolarado e com vento para levar os dois filhos ao local. Nas mãos, o acessório indispensável para a diversão, uma pipa. “Aqui é bom porque tem um vento ótimo e não há nenhum risco de qualquer tipo de acidente. Soltar perto de rede elétrica é uma fria muito grande”, diz o pai.

A pequena Ana Mel, de 2 anos, observa o pai tentando empinar o papagaio para que ela possa continuar a brincadeira. “O problema de soltar perto da rede é o risco que você corre e também o que outras pessoas estão correndo. Estamos aqui porque acho importante ensinar para ela as boas práticas desde cedo”, diz o coordenador operacional Elianderson Inácio, de 33, pai da menina.

Apesar de não estar com os pais por perto, Thayrone Felipe de Souza, de 13, já sabe na ponta da língua a regra na hora de desenroscar a linha e começar a brincadeira. “Já vi vários amigos soltando pipa perto da rede lá no Bairro Santa Branca (Pampulha), onde moro. Sempre falo que não vale a pena, é muito melhor vir para o parque. Estou aqui todo sábado e domingo”, diz ele.

Pais dão mau exemplo

Chama a atenção a quantidade de crianças e adolescentes que tentam entrar no Parque Ecológico da Pampulha com linhas cobertas de cerol, feito com pó de vidro. Muitas acabam acobertadas pelos pais e transformam a brincadeira sadia em tormento para outros jovens, além de trazer risco de acidentes. Para coibir esse abuso, os seguranças do parque fazem vistorias nas linhas e apreendem os rolos quando encontram cerol. O problema é que tem muita gente tentando enganar a vigilância. Ontem, uma caixa de papelão ficou cheia de rolos de linha com cerol.

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