domingo, 8 de julho de 2012

Conheça alguns personagens da estabilidade do Real


Conheça alguns personagens da estabilidade do RealO combate à inflação alta no Brasil teve participação ativa de mineiros que se destacaram na época e hoje veem novos desafios para o país

Publicação: 07/07/2012 06:00 Atualização: 07/07/2012 07:10
A batalha travada pelo país para estancar a espiral inflacionária que devorava salários e capital e por duas décadas empacou o crescimento econômico do Brasil foi vista por personagens que atuaram ativamente nas diversas tentativas feitas pelo governo para estabilizar a economia. Do congelamento de preços do Plano Cruzado, quando foram fiscais dos preços e do abastecimento, ao confisco das cadernetas de poupança do Plano Collor, quando foram “vítimas” da mais ousada medida para segurar os  eajustes de preços, eles são unânimes em reconhecer que o real deixou para trás um período de escalada de preços, mas lembram os desafios e problemas que a economia brasileira ainda tem de enfrentar e que, em alguns casos são praticamente os mesmos de 18 anos atrás. Na sétima reportagem da série Marioridade do real, que é publicada desde domingo, o Estado de Minas mostra o que esses personagens afirmaram ao jornal no início do Plano Real e como veem a economia agora.


 José Arnaldo Lima, 
ex-superintendente da Sunab e
ex-coordenador do Procon Municipal 

Em julho de 1994, junto com o lançamento do Plano Real, José Arnaldo Lima assumia o comando da Superintendência Nacional de Abastecimento (Sunab) em Minas, órgão conhecido por agir no controle de preços. Ele acompanhou a mudança de atribuição da extinta Sunab, que em uma economia livre da inflação deixava de fiscalizar o reajuste abusivo dos preços para dar lugar às pesquisas de mercado, em que o consumidor ganhou papel de destaque. Pouco tempo depois do lançamento do plano econômico, José Arnaldo destacou no jornal Estado de Minas, em 15 de agosto de 1994, o papel crucial do consumidor ao mesmo tempo que apostou no sucesso da moeda. Dezoito anos depois ele diz que a população respondeu ao chamado e considera que o plano foi a “redenção” do país. “Os consumidores se tornaram mais conscientes de seus direitos e deveres. Aprenderam a pesquisar preços e a não ter vergonha de questionar.” Quinze anos após a extinção da Sunab, José Arnaldo, que também foi coordenador do Procon Municipal, não perde o hábito de fiscalizar o cumprimento da lei e observa que o país ainda tem desafios. “Muitas lojas, inclusive em shopping centers, insistem em não mostrar de forma clara para o consumidor a diferença entre o valor à vista e a prazo. Não expõem os juros como deveriam.”

Lúcia Pacífico Homem,
presidente do Movimento das Donas de Casa


Em junho de 1996, a presidente do Movimento das Donas de Casa e Consumidores (MDC), Lúcia Pacífico Homem, afirmou ao Estado de Minas que o controle da inflação liberou as donas de casa para enfrentar novos pleitos, como administrar o orçamento doméstico em um país com pouco investimento em educação. Nos vários planos econômicos anteriores ao real, o Movimento das Donas de Casa participou de forma ativa e sensibilizou a população de Belo Horizonte para os problemas de cada uma das iniciativas frustradas de controlar os aumentos de preços. Dezoito anos depois do real, Lúcia Pacífico reforça que a bandeira da qualificação ainda é uma ameaça. Seja para trabalhar no ambiente familiar ou nas organizações, a presidente do MDC lembra que o país ainda tem a vencer uma grande defasagem na formação de sua mão de obra. O perfil do consumo também mudou durante o Plano Real. Se antes a batalha era para incluir na lista das famílias produtos básicos, hoje com o crescimento da renda, a preocupação é outra. “Estamos atentos em reforçar a educação para o consumo e nos preocupamos com o endividamento da população.” Lúcia Pacífico aponta que o crescimento do emprego também mudou a organização doméstica. “Em casa, as empregadas mensalistas estão sendo substituídas pelas diaristas”, aponta Pacífico.

 Wanderley Ramalho,
coordenador do Ipead

Coordenador de pesquisa e desenvolvimento da Fundação Ipead/UFMG, o economista Wanderley Ramalho acompanha o Plano Real, desde sua criação até os dias de hoje. No início de 1999, em entrevista ao Estado de Minas, Ramalho considerava que, mesmo com a desvalorização do real frente ao dólar, não havia mais espaço para reajustes de preços abusivos, “inclusive porque a economia está desindexada”. À frente do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) que mede a inflação de Belo Horizonte, Ramalho define o Plano Real como uma “belíssima engenharia financeira”. Ele diz que o sucesso da moeda é inegável, mas lembra que o real foi um plano de estabilização, com alvo bem definido. “Chegou-se a acreditar que a estabilização da moeda traria o desenvolvimento, um excesso de otimismo inicial.” Para Ramalho o plano cumpriu bem seu propósito, controlou a inflação, mas cabe ao país desenvolver outra agenda, planejar o crescimento econômico. “Querer que o desenvolvimento ocorra automaticamente é pedir muito do Plano Real, é pedir demais.” Nos primeiro anos da nova moeda alguns economistas profetizaram sobre o câmbio flutuante e seus riscos para a inflação. Mas Wanderley Ramalho sustenta sua opinião inicial. “Foi bom para o país ter um câmbio flexível, que deixou de ser controlado artificialmente.” De fato, a inflação permaneceu sob controle.

Roberto Maluf Teixeira,
ex-presidente da Fiemg

Quase dois meses depois de implantado o real, empresários da indústria mineira avaliavam como positivo o novo plano de estabilização monetária, apesar da preocupação que mantinham quanto às altas taxas de juros e a valorização do real frente ao dólar. Para o então presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Roberto Maluf Teixeira, os juros altos utilizados na época para conter o consumo e evitar nova escalada inflacionária inviabilizavam a produção, que registrava queda. Passados 18 anos da entrevista que concedeu ao Estado de Minas em agosto de 1994, Maluf não vê grandes mudanças nas reivindicações do empresariado e ainda considera o tema atual. “Este título não precisa mudar muito. Os juros altos sempre foram a tônica de nossas reuniões com os empresários. Mesmo com as reduções proporcionadas pelo governo agora, ainda estamos em um patamar longe do ideal”, avalia o sócio da construtora Cesenge Engenharia. Somente nos últimos dois meses, a desvalorização do real trouxe certo alívio para o setor exportador, mas até então era uma grande preocupação para a indústria nacional que, assim como em 1994, viu o mercado interno ser inundado por produtos importados e a perda de competitividade dos produtos brasileiros. Em 18 anos, as fábricas nacionais perderam competitividade, apesar de a inflação estar sob controle e a taxa básica de juros (Selic) estar no menor nível da história.

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