quinta-feira, 19 de julho de 2012

Cresce o número de pessoas que vivem sozinhas no Distrito Federal


Cresce o número de pessoas que vivem sozinhas no Distrito FederalDistrito Federal registra um aumento de mais de 90% no total de residências com um só habitante, segundo Censo de 2010

Ariadne Sakkis - Correio Braziliense
Publicação: 19/07/2012 07:41 Atualização: 19/07/2012 08:07
 (Antonio Cunha/Esp. CB/D.A Press)

Privacidade é uma fantasia no apartamento de três quartos, no Cruzeiro, onde Elyse Pereira da Cunha e Marcelo Augusto Coelho vivem em família desde que se casaram, há 19 anos. Com o casal, moram quatro filhos, com idades entre 13 e 26 anos, e uma pincher. Há mais uma filha, que é casada e não vive mais com a mãe. De quinta-feira a domingo, o apartamento costuma ganhar mais uma moradora. É Samyra, 6 anos, neta de Elyse. Tanto a mulher quanto o marido vêm de famílias grandes, com muitos irmãos.

Com tanta gente morando no mesmo lugar, é inevitável a briga por espaço. “Apesar disso, eu amo viver com os meus filhos”, diz Elyse. Marcelo, por sua vez, gostaria de ter mais sossego. “Cresci com sete irmãos. Sempre quis ter uma casa só minha, mas vamos ter que esperar os meninos saírem”, brinca.

Lares cheios assim são cada vez mais raros. É o que mostram os números do Censo 2010 sobre a quantidade de moradores por domicílio no Distrito Federal. Quando comparado com o recenseamento feito uma década antes pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os dados mais recentes revelam um crescimento de casas habitadas por uma só pessoa, superior a 92% (leia arte). A média de pessoas por casa na capital é inferior à nacional: Brasília tem 3,1 moradores, contra 3,3 notados no país.

Em contrapartida, proporcionalmente ao aumento populacional, caiu a quantidade de residências com mais de dois moradores. Em 2000, por exemplo, 25,14% dos 137.660 lares abrigavam quatro moradores. Passados 10 anos, esse agrupamento domiciliar respondia por 22,42% das 774.021 moradias. A representatividade de lares com cinco ou mais moradores também está em declínio: passou de 24,94% em 2000 para 19,75%.

Há várias explicações para a quantidade de residências cada vez mais solitárias. Um dos mais importantes diz respeito à redução gradativa no tamanho das famílias no DF. Um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que a taxa de filhos por mulher é menor do que a média nacional. Enquanto isso, no país, as brasileiras têm, em média, 1,90 filho, no DF, ela é de 1,81. Em 2000, esse índice era de 2,20 filhos por moradora do DF. A redução, em uma década, foi de 17,7%.

Quitinetes


O diretor de Gestão da Informação da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), Júlio Miragaya, lembra ainda que o índice de divórcios de Brasília é o maior do país, o que motiva a busca por imóveis menores. “Aqui, pesa muito o aspecto econômico da capital, que tem renda maior do que em outras unidades da Federação. Não é incomum casais que se separam e continuam morando no mesmo local. Mas o DF se diferencia nesse sentido”, explica.

O terceiro e relevante aspecto da mudança de perfil residencial do DF são os atrativos do serviço público. “Esse setor tem um peso muito forte aqui e atrai pessoas de todas as partes do país. Geralmente, elas vêm de outras localidades e acabam morando sozinhas”, explica Miragaya. 

Nesse contexto, se encaixa a advogada Laís Pinheiro, 24 anos. Natural de Natal (RN), ela se mudou para Brasília a fim de estudar diplomacia e tentar uma vaga no Itamaraty. “Brasília é o centro dos estudos diplomáticos. Os melhores cursinhos estão aqui”, afirma. Como veio sozinha, ela optou por morar em uma quitinete, no Sudoeste. “A oferta é muito boa, mas os preços são altos. O que pago aqui daria para alugar um apartamento de dois quartos no melhor bairro de Natal”, reclama. 

Ela avalia ainda que, ao contrário de Natal e de outras cidades brasileiras, Brasília tem boa qualidade para apartamentos pequenos. “É o único local que conheço onde as quitinetes são boas e bem localizadas. Em Natal, por exemplo, é uma coisa mais de periferia”, compara.

Separações


O Censo de 2010 mostrou que a capital brasileira tem o maior índice de separações do país, já que 4,16% dos casais optaram pelo divórcio. No recenseamento feito em 2000, essa taxa era de 2,93 e colocava o DF na segunda colocação do país, à época atrás apenas do Rio de Janeiro. 

Pesquisa prévia


O perfil de Brasília no aspecto domiciliar norteia a construção de prédios residenciais. Antes de levantar novos edifícios na capital federal, as empreiteiras fazem pesquisas em imobiliárias. Atualmente, a principal demanda é por apartamentos pequenos, de um ou dois quartos, além de quitinetes. Esse tipo de imóvel, por exemplo, ganha espaço fora do Plano Piloto e no Centro de Atividades do Lago Norte, avançando para cidades como Samambaia, Ceilândia e Taguatinga. 

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Júlio Cesar Peres, explica que apartamentos menores têm sido priorizados pelas construtoras por causa da alta procura e também pelos bom resultados financeiros. “Sem dúvida, é lucrativo. Quando você vê a curva de valorização, quanto menor o apartamento, maior é o metro quadrado e maior é a taxa de retorno”, calcula. Segundo ele, hoje, o metro quadrado de um apartamento de um quarto chega a custar R$ 6,5 mil, enquanto a mesma medida despenca para até R$ 5,2 mil em um imóvel de quatro cômodos. 

Impacto

Com cada vez mais gente optando por morar sozinha, Peres acredita que a tendência é a verticalização do Distrito Federal, exceto, claro, o perímetro tombado. “Temos que fazer estudos profundos para avaliar o impacto de trânsito, a capacidade de abastecimento de energia e a ligação de esgoto, mas acho que a tendência é crescer para cima. A classe A indo em direção ao Jardim Botânico e Unaí (MG) e a classe B e C, ao Recanto das Emas, Novo Gama (GO)”, conclui.

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