sábado, 14 de julho de 2012

Sucessão de acidentes com carretas leva medo a motoristas no Anel Rodoviário


Sucessão de acidentes com carretas leva medo a motoristas no Anel Rodoviário

Publicação: 14/07/2012 06:00 Atualização: 14/07/2012 07:03
Os carros fazem de tudo para fugir de caminhões na descida do Betânia (Jackson Romanelli/EM/D.A Press)
Os carros fazem de tudo para fugir de caminhões na descida do Betânia
Um olho no carro à frente e outro no retrovisor. O medo de ser arrastado por uma carreta desgovernada no temido Anel Rodoviário de Belo Horizonte mudou a forma de dirigir do eletricista Rogério Antônio Belo, de 42 anos, que todos os dias precisa se deslocar de Contagem, na Grande BH, para o Bairro Olhos d’Água, na Região do Barreiro, na capital. “A gente olha mais para trás do que para a frente. Tenho muito medo deste anel, mas não há outro caminho. Tenho de ir e voltar por aqui”, relata. Para Rogério, o corredor “não tem mais jeito” e a principal causa para tantos acidentes é o excesso de peso dos caminhões. “Deveria haver uma balança lá em cima porque é o excesso de carga que faz os freios travarem”, sugere o eletricista.

Nem mesmo quem fiscaliza os motoristas está livre do sentimento de medo que os consecutivos acidentes provocam. Na base móvel da Polícia Militar Rodoviária (PMRv), o soldado Prates viu a vida por um fio na quarta-feira, quando o caminhão-baú carregado com 12 toneladas de produto tóxico saiu arrastando tudo pela frente. “Quando vi o descontrole da direção, sem saber para onde o caminhão iria, tentei me proteger atrás da base. Mas não tinha nenhuma garantia de que o motorista não iria jogar o veículo justamente aqui. A insegurança não é só de quem está na via, mas também para nós que fiscalizamos. Já pedimos que seja instalada uma defensa metálica para nos proteger”, conta o soldado, que há apenas dois meses fiscaliza a via. 
O motorista Raimundo Flávio Campos, de 56, compara o Anel Rodoviário a uma roleta russa, pois nunca se sabe se vai sair dali vivo. “Passo aqui com medo e porque sou obrigado. Moro no Bairro Céu Azul, na Região da Pampulha, trabalho em Nova Lima e não tenho outra opção. Já vi muitos acidentes aqui, por isso só dirijo pela esquerda. Tenho pavor de ter atrás de mim uma carreta, porque elas não conseguem parar quando chegam ao radar”, diz. 

Descrença

Para as pessoas que trabalham às margens da rodovia a aflição é em dose dupla: além de não ter como fugir do perigo, ainda são obrigadas a presenciar desastres frequentes. “A sensação que a gente tem é de medo e impotência porque, infelizmente, as obras não passam de promessas. Mas nem sempre a culpa é só da rodovia, tem muito motorista imprudente ”, critica Aladim Pereira, de 30, empregado da Ferrosider, empresa instalada no ponto mais crítico do Anel Rodoviário, no Bairro Betânia.

Se o sentimento entre os motoristas é de medo, para os que vivem à margem do corredor a sensação é de descrença. A professora Rosita Lisboa diz que já perdeu as contas de quantas vezes teve o quintal invadido por caminhões e carros desgovernados. O muro de sua casa é reforçado com defensas metálicas que já impediram tragédias. “Meu trilho segurou uma carreta que iria matar a mãe e três crianças. Elas ficaram entre o muro da minha casa e o eixo do caminhão”, conta. Solicitada a analisar o problema, a professora é enérgica: “Até um cego sabe qual o problema aqui. Tem cinco pistas e, de uma hora para outra, viram duas. Onde já se viu uma marginal com esse fluxo de carros? Há um completo descaso com o Anel Rodoviário.”

Empresário vai ganhar indenização 

O motorista Leonardo Farias Hilário, que provocou um dos piores acidentes no Anel Rodoviário em 28 de janeiro do ano passado, e as empresas proprietárias da carreta dirigida por ele foram condenados a pagar um indenização de R$ 21.948 por danos materiais a um empresário que teve seu veículo envolvido no acidente. O carro do empresário foi atingido na traseira e arremessado contra a mureta de segurança da rodovia, o que provocou o capotamento do veículo. A seguradora negou a cobertura dos estragos causados pelo acidente e o empresário decidiu cobrar dos responsáveis pelo caminhão as despesas com a remoção do veículo, conserto e desvalorização, além dos transtornos gerados pela impossibilidade de usar o automóvel. Os réus foram citados, mas não apresentaram contestação, sendo julgados à revelia. O juiz da 32ª Vara Cível de Belo Horizonte, Geraldo Carlos Campos, entendeu que as provas do processo demonstram a culpa do motorista da carreta pelo acidente, uma vez que ele não conseguiu diminuir a velocidade e atingiu vários veículos, entre eles o do empresário. O magistrado considerou que L.F.H. desrespeitou o Código de Trânsito Brasileiro ao agir de forma imprudente, descumprindo a norma de manter distância segura do veículo à frente. Essa decisão, de primeira Instância, está sujeita a recurso.

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