sábado, 14 de julho de 2012

Diesel vai pressionar preços em geral


Diesel vai pressionar preços em geralAlta do combustível nos postos deve ser maior que a projetada pela Petrobras e impacto sobre produtos de cadeia curta, como verduras e frutas, deve ser imediato

Publicação: 14/07/2012 06:00 Atualização: 14/07/2012 07:07
Apesar de a Petrobras estimar que somente uma parte dos 6% de reajuste do diesel nas refinarias chegará às bombas nesta segunda-feira, são cada vez maiores as apostas de variação de preços próxima ao percentual limite. Segundo informações da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), a Shell Distribuidora (Raízen) já havia informado ontem que repassaria a alta integral, de 6%, aos postos. A empresa, porém, negou a definição dos cálculos de reajuste médio. Há 34 anos no setor, o presidente da Federação, Paulo Miranda, acredita que a alíquota nas bombas pode ficar mais próxima dos 6%, já que a alta do diesel vai impactar também o custo do transporte do próprio combustível para os postos. “Vamos comunicar o percentual de reajuste ao Ministério Público Estadual”, reforçou. 

O impacto imediato da alta será praticamente imperceptível no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo cálculos de Irene Maria Machado, gerente de pesquisa do IBGE, caso a elevação seja de 6%, o diesel responderá por meros 0,007 ponto percentual no índice de julho. Se for de 4%, o resultado cai para 0,005 ponto percentual. O cenário é justificado pelo peso de apenas 0,12% do diesel na composição do IPCA. O que não significa que a decisão da estatal passará incólume ao poder de fogo do dragão.

Os reflexos mais profundos virão de outros itens que compõe o IPCA, diante da extensa cadeia produtiva que conta com o insumo como um dos principais formadores do custo de produção. Especialistas estimam que os resultados no bolso do consumidor já serão constatados imediatamente, podendo se estender para 2013. “Os efeitos do reajuste serão sentidos nas tarifas públicas no ano que vem”, estima o analista da Tendências Consultoria, Thiago Curado. É também no final do ano que ocorre o repasse dos custos para as tarifas de transporte público. Somente na Grande BH, onde o diesel responde por 25% da composição do reajuste das tarifas, a alta de 6% contribuiria com 1,5% na formação do índice de elevação dos preços das passagens de ônibus. 

Os alimentos também não devem passar ilesos. “A alta, nesse caso, será diluída ao longo do semestre, podendo ser percebida a partir da semana que vem no caso dos produtos in natura”, acrescenta Curado. O coordenador do IPCA da Universidade Federal de Lavras (UFLA), Ricardo Reis, diz que o peso maior do repasse de preços deve acontecer em segmentos de cadeias curtas, como é o caso dos hortifruti, que, partindo da fazenda, chegam rapidamente ao consumidor. “Acredito que nas cadeias de grande escala, como os grãos, os custos acabam sendo diluídos”, pondera. 

Constatação confirmada por Jônadan Ma, produtor de milho, soja, feijão e cana-de-açúcar em Uberaba, que acha difícil repassar os custos para a ponta. Fazendo uma conta rápida, o produtor chega a um resultado desanimador. “Com a alta do diesel, produzir grãos vai ficar entre 2,5% e 3% mais caro. Já o custo da produção da cana-de-açúcar vai crescer 5%”, calcula. Ele aponta que a hora trabalhada no maquinário agrícola 100% movido a óleo diesel vai encarecer, assim como toda a logística que transporta de insumos à produção agrícola.

Momento ruim

Presidente da Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte), Jorge de Souza lamenta que a medida da Petrobras chegue em um momento de crise internacional. “O frete já responde por 18% do custo de produção e a alta do diesel vai encarecer ainda mais a produção em um momento de retração do mercado interno.”

No total, o reajuste do óleo diesel vai incidir sobre um custo equivalente a R$ 847 milhões, valor que os combustíveis e lubrificantes devem movimentar em 2012 no agronegócio mineiro. João Ricardo Albanez, superintendente de política e economia agrícola da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de Minas Gerais (Seapa), aponta que o óleo diesel é parte relevante na fatia que movimenta 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola do estado. "A alta do óleo diesel vai fazer o PIB crescer em uma perspectiva negativa."

IGPs devem variar mais

Por medir mais diretamente as variações de preços das matérias-primas agropecuárias e industriais, tanto de produtos intermediários como de bens e serviços finais, os Índices Gerais de Preços (IGPs), medidos pela Fundação Getulio Vargas, devem sofrer influência mais evidente da alta do diesel que chega no início da semana. Segundo cálculos do Bradesco, somado à alta da gasolina, o diesel contribuirá com 0,27 ponto percentual na formação do Índice de Preços ao Consumidor – Mercado (IGP-M) de julho, principal indexador dos contratos de aluguel. 

Fortemente afetado pela medida, o transporte de cargas, amplamente concentrado em vias rodoviárias, também calcula os reflexos. O presidente da Federação das Empresas de Transportes de Cargas de Minas Gerais (Fetcemg), Vander Francisco Costa, estima repasse de 3% para o valor do frete. “No transporte de carga, o diesel responde por 50% dos custos da operação. O impacto acontece no curto prazo e, em no máximo 15 dias, já deve começar a chegar aos clientes”, estima. 

Para Vander, a alta oficial só coroa um ciclo de aumentos constantes que vêm acontecendo nos últimos meses. “As elevações são de menos de um centavo, mas vêm acontecendo”, alerta. Associado ao encarecimento do diesel, está o aumento dos salários da categoria, em período de data-base. “Não fechamos ainda, mas estamos próximos de bater o martelo em 8%. Aí, será pelo menos mais 1,5% de alta no frete”, calcula Vander.

Nas distribuidoras também não há espaço para absorção de custos, que devem ser repassados imediatamente. “Nossa margem de lucro é de 1% a 3%”, justifica Ronaldo Magalhães, presidente da Associação dos Atacadistas Distribuidores de Minas Gerais (Ademig). Por conta da diversidade do setor, Ronaldo estima que os repasses devem variar entre 2% e 10%. (PT)

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