domingo, 28 de outubro de 2012

Argentinos se rendem à Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

Argentinos se rendem à Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

Orquestra inicia turnê pela América do Sul com apresentação em teatro argentino, detentor de uma das melhores acústicas do mundo


Carolina Braga - EM Cultura
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Eugênio Sávio/Divulgação
Sob a regência do maestro Fabio Mechetti, os músicos encantaram o público logo de início, ao som de O guarani, de Carlos Gomes


Buenos Aires –  Quando soaram os primeiros acordes de O guarani, de Carlos Gomes, no pomposo Teatro Colón de Buenos Aires, na noite da última sexta-feira, foi impossível não se arrepiar. Mas isso não se deve somente à incensada acústica do espaço, sua beleza ou a obra em si. A abertura da ópera mais conhecida do compositor brasileiro foi escolhida para a estreia internacional da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. E que estreia.

Se havia um ar de desconfiança por parte dos argentinos diante de uma “novíssima” orquestra de Minas Gerais, essa impressão passou logo nos primeiros minutos. “Os mineiros conquistaram o Colón”, atestou o ex-cônsul da Argentina em Belo Horizonte Ramon Villagra Delgado. Ele não escondeu a empolgação pelo que havio acabado de assistir. Segundo Ramon, o teatro considerado a catedral da cultura dos “hermanos” costuma ter um público muito especializado em música clássica, por isso, a prova foi de fogo. Mas sob a regência do maestro Fabio Mechetti e com participação do solista Antonio Meneses no violoncelo, a Filarmônica surpreendeu a experiente – e exigente – plateia de Buenos Aires.


“É triunfante. Das enormes gravações que conheço dessa obra, com maestros extraordinários, sei que é um desafio apresentá-la. Eles se saíram muito bem”, afirmou o argentino Ernesto Turjanties, sobre o Concerto para violoncelo e orquestra em si menor, op. 104, de Antonín Dvorák. Além dele e de O guarani, a Sinfonia número 4 em fá menor, op. 36, de Tchaikovsky, completa o programa da turnê que passa hoje por Montevidéu, no Uruguai, e depois Rosario e Córdoba, na Argentina. O repertório não parou aí. Após os aplausos efusivos e gritos de “Bravo”, os argentinos foram homenageados no bis com a apresentação de Variações concertantes Rondó, de Ginastera, seguida da introdução das Bachianas brasileiras número 4, de Villa-Lobos.

Para o maestro Fabio Mechetti, a orquestra se destacou ao demonstrar personalidade na primeira apresentação no exterior. “Fazer uma estreia internacional em um teatro como o Colón, um dos mais importantes do mundo, pode intimidar. Mas a orquestra ficou muito à vontade. O público respondeu da mesma maneira. Esperamos que seja a primeira de várias visitas que faremos. Fico orgulhoso pelo fato de estarmos aqui trazendo um pouco de Minas aos nossos ‘hermanos’”, comentou Mechetti.

Acústica “Já estive neste teatro várias vezes, mas foi a primeira com uma orquestra brasileira. Eles tocaram magnificamente bem”, disse o solista Antônio Meneses. “Estou muito feliz com o resultado. O fato de termos nos apresentado em uma das acústicas mais maravilhosas do mundo fez com que essa orquestra, de repente, mostrasse o que realmente é capaz de fazer”, acrescentou.

Apesar da ansiedade, o clima entre os integrantes da orquestra era de tranquilidade. A calma e a segurança se refletiram na música. “Foi emocionante. Estamos acostumados a tocar em uma acústica que não é tão sublime quanto essa. Aqui é como se estivéssemos com os ouvidos desobstruídos. É incrível. Deu tudo certo, foi muito bonito”, comentou o percussionista Werner Silveira.

* A repórter viajou a convite da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais

Orquestra em números

82
é o total de integrantes da Filarmônica de Minas

6,5 mil
quilômetros será a distância percorrida na turnê pela Argentina e Uruguai

2 toneladas
é o peso total dos instrumentos transportados

Eugênio Sávio/Divulgação
Argentinos se rendem à Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, que inicia turnê pela América do Sul com apresentação em teatro argentino


Um teatro de porte

Inaugurado em 25 de março de 1908, o Teatro Colón é considerado uma das cinco melhores acústicas do mundo. O auditório é em forma de ferradura, com capacidade para 2.487 pessoas. O palco tem 20 metros de largura, 15 de altura e 20 de profundidade. Depois de um período de decadência, o teatro permaneceu fechado para reformas entre 2006 e 2010.

Prêmios no currículo

Com direção artística e regência de Fabio Mechetti, a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais foi criada em 2008 já com o propósito de alcançar excelência. Em cinco anos de atividades, além de ter solidificado um calendário de concertos em Belo Horizontes com expressivos convidados da seara erudita, já acumula prêmios. O mais recente foi o Troféu Carlos Gomes de melhor orquestra sinfônica em 2012.

Para o solista Antonio Meneses, a trajetória desempenhada até agora pela Filarmônica de Minas Gerais chega a ser milagrosa. “Em cinco anos chegar ao resultado que estão apresentando agora é fantástico. A Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) fez isso, o que já foi o primeiro grande milagre. Agora a Filarmônica de Minas está fazendo a mesma coisa”, avaliou. “Desde o início eu toquei com a orquestra e vejo que está melhorando a passos gigantes. O concerto desta noite foi uma coisa excepcional. Em qualquer sala do mundo se pode tocar com uma orquestra assim”, elogiou o violoncelista

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