domingo, 28 de outubro de 2012

Classe C brasileira descobre a moda Com emprego, renda e acesso ao crédito, consumidores que ascenderam socialmente vão gastar R$ 55,7 bilhões em roupas. Compras superam em R$ 10 bilhões as das classes A e B

Classe C brasileira descobre a moda Com emprego, renda e acesso ao crédito, consumidores que ascenderam socialmente vão gastar R$ 55,7 bilhões em roupas. Compras superam em R$ 10 bilhões as das classes A e B

Carolina Mansur
Publicação: 28/10/2012 06:00 Atualização: 28/10/2012 07:25

Clique para ver os números dos gastos da classe C ccom vestuário
Clique para ver os números dos gastos da classe C ccom vestuário
Investir na aparência e estar bem vestido nunca foi tão importante para a classe C. Empregada, com renda maior e mais acesso ao crédito, a nova classe média está mais consumista e até o fim deste ano vai gastar em roupas R$ 10,2 bilhões a mais do que as classes A e B. De acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto Data Popular, em nove anos os consumidores da classe C ampliaram os gastos com moda, descontada a inflação do período, em aproximadamente 153,2%. Hoje, eles representam 46% dos consumidores de roupas e devem atingir a cifra de R$ 55,7 bilhões ainda em 2012. Enquanto isso, as classes A e B respondem por 37,6% dos gastos, somando R$ 45,5 bilhões e as classes D e E por 16,4%, cerca de R$ 19,8 bilhões. A resposta ao consumo crescente vem no surgimento e fortalecimento de redes e lojas voltadas para esse público.

Há dois anos no mercado de Belo Horizonte, a loja de departamento 7 Bello, no Centro, vem crescendo 40% ao ano embalada pela classe C. “Atender o mercado emergente é cada vez mais lucrativo porque ele ganha mais e gasta mais”, afirma o gerente Cláudio Hernani Murta. O bom desempenho, segundo ele, pode ser justificado ainda pela oferta de mercadorias mais baratas, mas que primam pela qualidade. “Esses são clientes extremamente exigentes e desejam produtos de qualidade”, afirma.

Segundo Murta, lojas populares com roupas amontoadas em bancas já não são mais o foco desse cliente, que acabou transformando o varejo. “Os consumidores, principalmente as mulheres, estão muito mais interessados em moda, têm informações, gastam mais e sabem o que tem e o que não tem qualidade”, explica. “Por isso é importante investir em uma loja diferenciada, com manequins e araras, peças exclusivas, em tendências e sempre buscar novos fornecedores”, acrescenta.

Há 20 anos no setor de confecção e varejo de roupas, a empresária Andrea Maria Savino Nogueira e o marido Carlos Henrique Nogueira já têm 10 lojas espalhadas em ruas e nos shoppings populares e pensam em fortalecer os negócios com a criação de uma franquia da loja Plus Basic. Os gastos crescentes da mulher da classe C, e também da classe B, despontam como principais motivos para a nova aposta.

Com expertise em confecção de roupas básicas femininas, eles pretendem em três anos criar um modelo de franquia. “O acesso ao crédito tem facilitado o bom desempenho desse tipo de negócio e entendemos que a nossa loja pode ser atrativa para quem quer entrar nesse mercado”, afirma a empresária. As blusas e vestidos de malha lisa ou estampada, que têm fabricação própria e preços de R$ 10 a R$ 50, levam movimento para a loja durante o dia todo. “Hoje, o preço ainda ganha na preferência desses consumidores, mas esse público se atualizou e quer qualidade acima de tudo”, completa.

Para homens

Na contramão dos empresários que investem no público feminino está o proprietário da loja Canal do Surf, Leandro Lustosa, que optou por atender os homens da classe C. Há quatro anos, ele era estoquista de uma loja de roupas, foi promovido a vendedor, depois a gerente e viu nesse mercado a chance de fazer a própria renda. “Via como as pessoas consomem roupas e achei atrativo investir nesse setor”, comenta. Com a ajuda do ex-patrão, adquiriu uma franquia da loja em março, e pretende recuperar cerca de 80% do valor investido na compra da franquia até dezembro. “Estou confiante que vou atingir essa meta porque esse público entra na loja e efetiva suas compras, ao contrário das mulheres, que ainda pesquisam muito”, comenta.

Para o sócio-diretor do Data Popular, Renato Meirelles, o que impulsiona o crescimento das lojas é, principalmente, a chegada desse consumidor da classe C ao mercado de trabalho. “Esse público não fica mais em casa e precisa estar bem vestido para enfrentar as jornadas de trabalho”, garante. Meirelles lembra que 77% das compras de vestuário pela classe C são feitas por mulheres.

A empresária Andrea Nogueira, dona da Plus Basic, planeja abrir franquia da loja, que cresce voltada para a nova classe média (Jackson Romanelli/EM/DA Press)
A empresária Andrea Nogueira, dona da Plus Basic, planeja abrir franquia da loja, que cresce voltada para a nova classe média


Universo para elas

Além de serem as principais consumidoras do setor de vestuário, as mulheres se mostram mais interessadas em moda que os homens, segundo os dados do Instituto Data Popular. Enquanto 80,5% das mulheres disseram ter pelo menos algum interesse em moda, 54,8% dos homens informaram ter algum interesse no assunto. Reforçam os números a caixa Natália da Silva e a vendedora Adriana Paula de Castro, que são consumistas assíduas. Sempre que sobra um dinheiro no orçamento, elas compram uma peça de roupa. “Ou é uma blusa ou uma calça para trabalhar”, confessa Natália. Todos os dias, as amigas, que trabalham no Centro, vão às lojas atrás dos melhores preços. Na última semana, Adriana foi buscar uma camisa social para o marido e saiu da loja com uma sacola. “Eu compro para mim, para ele e para o meu filho”, diz.

Segundo a professora de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/IBS) Zirene Roxo Matesco, a qualidade das roupas melhorada pela concorrência e importações também é grande responsável pelo crescimento desse mercado. “Hoje a classe C está vestindo a mesma moda das classes A e B com preços menores, e são as próprias consumidoras que fomentam esse mercado e buscam os lançamentos nas lojas populares”, afirma.

O acesso aos cartões de crédito e de débito e a facilidade ao comprar são apontados pela professora como os principais responsáveis pelo fenômeno notado não só no varejo como também em outros setores. “Há oito anos o crédito correspondia a 25% do PIB, e hoje já é 50%. Este ano a economia vai crescer pouco, cerca 1,6%, mas o consumo das famílias de forma geral vai aumentar quase 4%, ou seja mais que o dobro do crescimento da economia”, destaca. (CM)

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