sábado, 13 de outubro de 2012

Educação financeira deve começar ainda na infância Especialistas e escolas afirmam que instruir os pequenos a comprar e poupar com mais consciência são atitudes que refletem positivamente na vida deles e das finanças de casa

Educação financeira deve começar ainda na infância Especialistas e escolas afirmam que instruir os pequenos a comprar e poupar com mais consciência são atitudes que refletem positivamente na vida deles e das finanças de casa

Carolina Mansur
Publicação: 12/10/2012 06:00 Atualização: 12/10/2012 09:29

Os irmãos Thiago e Pollyana e o colega Victor: eles dizem que aprenderam a gastar com consciência (Maria Tereza Correia/EM/D.A Press)
Os irmãos Thiago e Pollyana e o colega Victor: eles dizem que aprenderam a gastar com consciência


Gastar com consciência, planejar a entrada e saída do dinheiro, economizar e traçar objetivos para uma poupança a curto, médio e longo prazos também são atividades de criança. Nas escolas ou em casa, ensinar que quem poupa sempre tem é cada vez mais comum e os bons exemplos entre os pequenos se multiplicam. Há dois meses, Victor Martins, de 10 anos, guarda a mesada que ganha dos pais com o objetivo de comprar um notebook. A meta deve ser cumprida até o final do ano. Já os irmãos Pollyana Ferreira, de 10, e Thiago Ferreira, de 8, diversificam suas economias. Em um cofre, há quase quatro anos, eles juntam dinheiro para aplicar na poupança. Em outro, os irmãos poupam para comprar computador e perfume.

A iniciativa das crianças surgiu das aulas de educação financeira – parte da disciplina formação humana – ministradas no Centro Educacional Paquetá, onde estudam. Formar cidadãos mais conscientes financeiramente é o objetivo da escola, que também viu no tema a chance de resolver o problema da inadimplência, recorrente na escola. “Essa foi uma forma de educar as crianças e fazer as informações chegarem aos pais, que se educariam na sequência. O resultado foi a regularização dos pagamentos”, explica a gestora da escola, Bernadete Rocha.

Segundo especialistas, educação financeira é disciplina nas escolas, mas também é obrigação dos pais, que devem levar o assunto para a rotina familiar. “É importante que a criança se familiarize e saiba lidar com o dinheiro porque ele faz parte da vida”, afirma o especialista em educação financeira para crianças e autor de 10 livros infantis sobre o tema Álvaro Modernell. Segundo ele, não há idade específica para introduzir a economia no dia a dia dos pequenos, além de noções sobre finanças. Mas é preciso adequar a linguagem sem tratar o assunto de forma cansativa. “Alguns pais pecam pelo excesso e acabam falando de finanças de forma dura e ignoram a maturidade da criança para entender aquilo”, explica.

Veja um guia para você educar seus filhos na vida finaceira (clique para ampliar)
Veja um guia para você educar seus filhos na vida finaceira (clique para ampliar)
Aproveitar as oportunidades dadas pelas crianças no dia a dia e usá-las gradualmente é a principal dica. Segundo especialistas, é preciso estimular a criança a pensar o momento de compra quando ela pede uma bola de futebol ou uma boneca, por exemplo. “Levar essa criança para pesquisar nas lojas, mostrar as diferenças de preço, tentar negociar um desconto ou mostrar que é possível comprar dois brinquedos pelo preço de um é uma forma de começar a educá-la financeiramente”, sugere Modernell. O ideal é aproveitar a fase de alfabetização em que os pequenos têm melhor noção sobre números e quantidade.

Entre as crianças menores funcionam as fábulas infantis, que introduzem os conceitos de economia, como a importância de ser previdente e poupar. Inclusive, esse é o principal mote no Centro Educacional Paquetá, que, segundo a coordenadora pedagógica Luciana Mendonça, além de estimular entre os alunos o consumo consciente, trabalha o conceito do ser e não o do ter. Também é objetivo da disciplina formar consumidores mais conscientes, que saibam diferenciar propagandas enganosas, ler contas de luz e pesquisar preços antes de comprar.

Os resultados surgem com o interesse dos filhos pelas questões econômicas da família. Foi o que ocorreu na casa do policial rodoviário federal Marcílio Martins, pai do pequeno Victor. “Ele me pergunta se tenho planejamento das contas e quer ter conhecimento do que foi gasto no mês porque sabe que se em um mês há descontrole, no outro haverá corte de custos”, lembra.

Zona de proteção
O descontrole financeiro dos pais e o excesso de zelo podem ser, segundo o professor de finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) Ewerson Moraes, péssimos aliados para o futuro das crianças. “Esse é um problema cultural. Os pais não têm educação financeira e as famílias não compartilham com as crianças os problemas do orçamento. Dessa forma, eles ficam numa zona de proteção”, garante. Para driblar a falta de diálogo, a dica do professor é aplicar em situações do cotidiano o conceito básico de que poupando é possível realizar sonhos.

O legado da alfabetização econômica
A alfabetização econômica deve ser encarada como uma etapa da vida da criança que não pode ser ignorada, segundo a professora de matemática do 5º ano do Colégio Magnum, Suely Campos Rabelo. “Estamos educando crianças que não serão lesadas no futuro, que serão mais críticas com relação aos gastos e que estão construindo uma relação diferenciada com o dinheiro, que poderá trazer frutos no futuro”, afirma.

Os colegas de classe Gabriela Carvalho Erbetta, de 10 anos, e Guilherme Teodoro Costa Pinto, de 11, confessam que antes das aulas de finanças eram mais consumistas e sempre que ganhavam dinheiro dos pais ou parentes gastavam sem planejamento. “Comprava algo que queria naquela hora, mas não pensava que guardando o dinheiro eu poderia ter uma quantia maior no futuro e comprar alguma coisa melhor”, afirma. Com Guilherme, a situação era a mesma. “Tudo o que eu via na televisão queria comprar. Minha mãe falava para eu guardar, mas não entendia por que deveria deixar de gastar. Agora, vejo que para conquistar meus objetivos dependo apenas das minhas economias”, garante. (CM)

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