quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Fóssil tem cérebro semelhante ao de animais atuais

Fóssil tem cérebro semelhante ao de animais atuais

Max Miliano Melo -
Publicação: 16/10/2012 08:42 Atualização: 16/10/2012 09:01


Fóssil de um artrópode descoberto na China tem estruturas neurológicas semelhantes às de animais atuais (XIAOYA M-NATURE/DIVULGAÇÃO - 13/2/04)
Fóssil de um artrópode descoberto na China tem estruturas neurológicas semelhantes às de animais atuais
O cérebro é, sem dúvida, a estrutura central da evolução dos animais. Foi ele que possibilitou a conquista do ambiente terrestre, o início do sedentarismo dos seres humanos e da formação de estruturas sociais em inúmeras espécies, desde macacos a baleias. Por essa razão, entender a evolução do órgão é uma das mais importantes etapas para compreender a própria evolução da vida. Cientistas da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, divulgaram mais uma importante peça desse quebra-cabeça. Em artigo publicado na revista Nature sexta-feira, eles afirmam que o cérebro dos animais ganhou os contornos de modernidade bem antes do que se imaginava, há mais de 520 milhões de anos.

Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores utilizaram como base um fóssil do artrópode Fuxianhuia protensa, encontrado em um sítio arqueológico no Norte da China. Segundo os cientistas, os detalhes da rocha mostram um cérebro anatomicamente complicado. “Acreditamos se tratar de um cérebro devido a suas dimensões e posição. Aparentemente, ele se mostra comparável com o de um crustáceo moderno, como um camarão”, explica Gregory Edgecombe, do Museu de História Natural de Londres, principal autor da pesquisa. Segundo ele, as afinidades não são apenas superficiais. “Existe uma semelhança impressionante na anatomia neurológica do artrópode com os insetos modernos e alguns tipos de crustáceo. Isso indica que o cérebro do artrópode evoluiu para permitir que ele tivesse uma boa estrutura de visão”, diz.

Dessa forma, o animal, ao conquistar o ambiente terrestre, teria desenvolvido mais cedo do que esperado uma visão poderosa para padrões evolutivos do período. Essa visão teria sido o pontapé inicial para os artrópodes se tornarem o grupo mais diverso do planeta atualmente – eles representam 84% dos animais existentes na Terra. O grupo inclui insetos, como gafanhotos e abelhas; aracnídeos, como aranhas, acne de pele e alguns tipos de ácaro; e crustáceos, como lagostas e caranguejos. Também estão compreendidos os quilópodes e diplópodes, representados, por exemplo, por centopeias e piolhos de cobra. Ao todo, existem cerca de 1 milhão de espécies desses animais.

“Elo perdido” A expectativas do especialista é de que a espécie Fuxianhuia protensa, descrita pela primeira vez no artigo da Nature, seja o “elo perdido” na evolução dos artrópodes. O cérebro do animal fossilizado é composto por três segmentos, unidos na entrada do que seria a boca do bicho, extinto há milhões de anos. Há ainda traços de tecidos neurais no lugar onde os cientistas acreditam que estariam localizados os olhos. “Ficamos surpresos com um animal com cérebro tão evoluído tão cedo na história dos seres multicelulares”, observou, em comunicado, o neurobiólogo Nicholas Strausfeld, da Universidade do Arizona e um dos coautores da pesquisa.

Nos próximos anos, os pesquisadores precisarão se debruçar sobre uma série de questões que foram abertas a partir do estudo divulgado. Será preciso desvendar, por exemplo, o caminho evolutivo que a espécie seguiu para desenvolver o cérebro tão complexo e como os animais contribuíram para a formação das mais de 1 milhão de espécies modernas de artrópodes. Outro ponto importante que precisará ser elucidado é como e quando surgiram e desapareceram os Fuxianhuia protensa, o primeiro “gênio” que se tem notícia na história dos seres vivos.

A tarefa não será nem um pouco fácil, garante o especialista Graham Budd. “Certos tipos de tecidos como ossos e casca são muito mais propensos a serem preservados no registro fóssil do que outros devido à natureza de sua mineralização”, explica o cientista do Departamento de Ciências da Terra da Universidade Uppsala, na Suécia. Tecidos moles, como músculos, são em grande parte proteicos e, portanto, passíveis de decomposição, sendo menos propensos a resistirem à oxidação, à limpeza, a danos mecânicos e a todas as outras vicissitudes que conspiram para fazer o trabalho de um paleontólogo difícil”, completa. Assim, encontrar outros fósseis do ser ou de outros parentes que ajudem a recontar a história de crescimento dos cérebro é uma tarefa dificílima.

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