domingo, 21 de outubro de 2012

Briga para ser oposição em Juiz de Fora » Bruno Siqueira (PMDB) e Margarida Salomão (PT) adotam o mesmo discurso contrário à administração de Custódio Mattos

Briga para ser oposição em Juiz de Fora » Bruno Siqueira (PMDB) e Margarida Salomão (PT) adotam o mesmo discurso contrário à administração de Custódio Mattos

Daniel Camargos -
Publicação: 21/10/2012 07:18 Atualização: 21/10/2012 07:23
Na disputa de segundo turno em Juiz de Fora, Zona da Mata de Minas, Margarida Salomão (PT) e Bruno Siqueira (PMDB) brigam para se posicionar como grandes opositores do atual prefeito, Custódio Mattos (PSDB), que tentava a reeleição e foi derrotado no primeiro turno (60.378 votos, 21,09%, dos votos válidos). “Fica muito evidente que, das duas candidaturas em disputa, a minha é da oposição”, afirma Margarida. Já Bruno, que recebeu o apoio do PSDB, se explica: “Desde o primeiro turno fiz propostas de um governo de mudança em relação à atual administração municipal”.

No primeiro turno a diferença entre os dois candidatos foi pequena. Bruno ficou na frente, com 115.267 votos (40,26%), e Margarida teve 106.487 (37,19%). Juiz de Fora é o quarto colégio eleitoral de Minas Gerais, com 386.662 eleitores. A disputa na cidade coloca frente a frente os dois principais partidos da base do governo da presidente Dilma Rousseff, o PT de Margarida e da presidente e o PMDB do vice Michel Temer e de Bruno. A presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a ser cogitada em Juiz de Fora, mas dias depois o presidente do PT, Rui Falcão, disse que Lula não participaria da disputa, para não melindrar os partidos da base aliada.

Se os caciques petistas não foram até a Zona da Mata, o PSDB decidiu rapidamente apoiar Bruno Siqueira. O apoio, porém, é tratado com cautela. Os nomes do governador Antonio Anastasia e do senador Aécio Neves são bem vistos por Bruno, porém o atual prefeito, Custódio Mattos, é rejeitado a todo momento pelo peemedebista, que promete não manter nenhum secretário da atual gestão.

Bruno, de 38 anos, é filho do ex-deputado federal Marcelo Siqueira, que foi presidente da Copasa durante o governo de Itamar Franco, e ligado ao grupo político do ex-presidente falecido no ano passado. Bruno é deputado estadual e foi vereador por três vezes seguidas em Juiz de Fora. Margarida, 62 anos, é candidata a prefeita pela segunda vez e foi reitora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) de 1998 a 2006. Ela [e a primeira suplente da coligação petista para a Câmara dos Deputados e, com a eleição de Gilmar Machado (PT) para a Prefeitura de Uberlândia, pode assumir a cadeira de deputada em janeiro, caso não seja eleita prefeita.

O discurso de renovação foi encampado pelos dois, mas independentemente do resultado haverá uma novidade na prefeitura. Desde o início da década de 1980, três políticos se revezam à frente do poder municipal. Custódio Mattos foi prefeito duas vezes; Tarcísio Delgado assumiu a pasta em três oportunidades. Quem também governou Juiz de Fora nos últimos anos foi Alberto Bejani (PSL), que renunciou para escapar da cassação e foi candidato a vereador, mas não se elegeu.

O Estado de Minas entrevistou Bruno e Margarida e ao fim da entrevista pediu que um fizesse uma pergunta para o outro. Margarida fez questão de pedir a Bruno que deixasse claro qual a equipe de governo com que ele trabalhará, querendo saber se ele aproveitaria parte da equipe de Custódio. Já Bruno pediu dois minutos para pensar na pergunta. Com a questão resolvida, perguntou para a petista como ela conseguirá verbas para a construção do hospital regional, pois as verbas são estaduais, com o objetivo de capitalizar o apoio do PSDB.





Margarida Salomão
Como a senhora avalia o apoio do PSDB, incluindo o governador Antonio Anastasia e o senador Aécio Neves, ao seu rival, Bruno Siqueira?
Eu penso que isso clareia o panorama político da eleição na cidade. Fica muito evidente que, das duas candidaturas em disputa, a minha é da oposição, na medida em que a candidatura adversária se vincula ao partido que governa a cidade. Não tenho nenhuma dúvida de que isso mistura a candidatura de Bruno Siqueira com o governo de Custódio Mattos .

A ausência de Lula em Juiz de Fora no segundo turno é muito prejudicial à sua candidatura?
Claro que a presença dele é muito importante na cidade. Nós estamos na disputa e a explicitação das nossas relações com o campo da presidente Dilma e do ex-presidente Lula nos reforça. A presença dele é muito querida. Ele sempre foi muitíssimo bem votado em Juiz de Fora. E se dependesse da cidade ele seria eleito presidente desde 1989.

Disputar com o PMDB, que é aliado do governo federal, atrapalha sua campanha?
Na verdade, compreendo que quando há uma disputa eleitoral você a faz com identidades políticas. Ainda que você tenha condições de dialogar – e eu mesma tenho condições de dialogar com muita facilidade com o governo do estado, do PSDB –, não entendo que por causa disso deve propor uma geleia geral, uma dissolução das identidades políticas. Pelo contrário, em Juiz de Fora o que está configurado são dois campos políticos em disputa: o nosso, que vem governando o Brasil e mudando o país, e o outro campo, que se vincula ao PSDB, às políticas que sempre foram praticadas por esse partido e não deram certo na sociedade brasileira.

Qual é o principal desafio a ser vencido em Juiz de Fora?
O principal desafio é, sem dúvida, o atendimento na área da saúde. Mas isso, me parece, só pode ser resolvido dentro de uma proposta estratégica. No meu entendimento a questão mais importante hoje para Juiz de Fora é a retomada do desenvolvimento entendido plenamente: econômico, social e com sustentabilidade. Dentro dessa perspectiva é que nós estamos fazendo uma proposta para que as pessoas se sintam melhor e tenham mais dinheiro no bolso, de uma intervenção tributária emergencial. Para o ano que vem proponho uma redução de 10% no IPTU da cidade e uma diminuição da alíquota do ISS de 5% para 2%.

Qual o impacto dessa redução no orçamento da cidade?
Foi feito um estudo criterioso por doutores em finanças públicas, professores da Universidade Federal de Juiz de Fora, que mostra com muita clareza que essa redução tem pouquíssimo impacto no orçamento do município e forte impacto no bolso de quem vive em Juiz de Fora. Considerando o orçamento já executado, de 2011, de quase R$ 1 bilhão, a contribuição do IPTU foi de R$ 80 milhões. Se fizer uma redução de 10% desse valor mexe em menos de 1% do orçamento. As pessoas vão sentir alívio no bolso, vão poder comprar mais e vão se sentir melhor.

Pergunta formulada pelo candidato Bruno Siqueira

Como a senhora vai garantir recursos com o governo do estado para concluir o hospital?
O importante é garantir recursos. Eu não tenho nenhuma dificuldade de obtê-los com o governo do estado. Quando fui reitora da universidade tive condições de obter recursos para construir o novo hospital da universidade com o governo do PSDB. O presidente era o Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Eu tive condições de obter os recursos iniciais para a construção do hospital com o governo do PSDB em um convênio assinado pelo então ministro da Saúde José Serra. Para obter recursos é preciso ter competência e experiência. De outro modo, se faltarem recursos do governo estadual, que efetivamente tem muito mais dificuldade e está em uma gravíssima crise orçamentaria e financeira, não terei dificuldades de buscar os recursos com o governo federal.



Bruno Siqueira

O senhor acredita que o apoio dos tucanos pode ser problemático, pois o senhor prega renovação, e o PSDB é o partido do atual prefeito, Custódio Mattos, que foi rejeitado pelas urnas?
Gostaria de deixar bem claro o seguinte: desde o primeiro turno fiz propostas de um governo de mudança em relação à atual administração municipal. Meu projeto é de mudança. Temos uma proposta de um governo de união. Com o governo de Minas, que é muito bem administrado pelo governador Anastasia, e com o governo federal, do qual fazemos parte e temos o vice-presidente Michel Temer (PMDB). Estamos trabalhando muito acima das questões partidárias, e o mais importante é o município de Juiz de Fora, que precisa do governo de Minas e precisa do governo federal para que os recursos para as obras cheguem à cidade. Juiz de Fora está muito acima de brigas e políticas partidárias. Nossas propostas continuam sendo propostas de mudança em relação à administração e à política municipal, mas sempre foram propostas de um governo de união.

Apesar de o seu partido ser da base do governo federal o senhor não conta com apoio explícito da presidente Dilma e de Lula. Isso atrapalha sua campanha?
O PMDB faz parte do governo federal e o Michel Temer já declarou apoio a nós, gravou para televisão e tenho feito contato direto com ele. O fato de o PMDB ter uma das maiores bancadas da Câmara dos Deputados e ter o vice-presidente da República também é positivo, pois eles se colocaram inteiramente à disposição de Juiz de Fora, caso seja essa a vontade da população, para trazer os recursos necessários do governo federal para a cidade. Apesar de não ter apoio de pessoas ligadas ao PT eu tenho o apoio do governo federal, por intermédio do vice-presidente Michel Temer.

O senhor representa parte do grupo político ligado ao ex-presidente Itamar Franco. O senhor considera esse apoio decisivo?
O Itamar faleceu no ano passado e não está mais entre nós, mas os seus ideais, a sua postura, a sua ética, a sua honestidade e o seu amor por Juiz de Fora ficaram. Levamos isso não só na nossa campanha, mas queremos levar por toda a administração.
Qual é o principal desafio de Juiz de Fora?
Juiz de Fora tem um problema sério hoje na saúde pública. Vou concluir o hospital regional, próximo à rodoviária, com recursos do governo do estado. O governador Anastasia estará junto para a conclusão desse projeto. O hospital será fundamental para melhorar a saúde na urgência e emergência. Vou atuar também na gestão primária da saúde e investir no desenvolvimento econômico para atrair novas empresas e manter as que já existem em Juiz de Fora. Vou concluir as obras viárias, que são os viadutos, pontes e pontilhões, chamados em Belo Horizonte de trincheiras. Farei parceria com a Polícia Militar para a segurança pública. São questões importantes para melhoria da qualidade de vida do cidadão.

Há verba para isso?
Para que isso seja concluído é importante ter um governo de união. Parte do que eu disse são recursos federais e parte são estaduais.

Pergunta formulada pela candidata Margarida Salomão

Gostaria que o senhor explicasse com qual equipe pretende governar Juiz de Fora.
Uma equipe de técnicos com sensibilidade política e uma equipe com alguns políticos que tenham conhecimento técnico das áreas. Equipe nova! Diferente e com secretários novos em relação aos atuais secretários municipais.

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