domingo, 21 de outubro de 2012

Embate entre aliados » Em Contagem, Carlin Moura (PCdoB) e Durval Ângelo (PT), ambos da base dos governos Lula e Dilma, agora são adversários

Embate entre aliados » Em Contagem, Carlin Moura (PCdoB) e Durval Ângelo (PT), ambos da base dos governos Lula e Dilma, agora são adversários

Bertha Maakaroun -
Publicação: 21/10/2012 07:23 Atualização:
Dois deputados estaduais e aliados históricos. Dois partidos da base de sustentação de Dilma Rousseff (PT). Esse é o caráter da disputa à Prefeitura de Contagem, que, no segundo turno, coloca em palanques opostos Carlin Moura (PCdoB) e Durval Ângelo (PT). O embate é duro e permeado de acusações mútuas. De um lado, Durval se queixa de que o velho “companheiro” o ataca em carros de som, com o discurso de que o parlamentar, que atua no âmbito da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia, seria “defensor de bandido”. Do outro, Carlin Moura reclama de ataques apócrifos pela internet, que culminaram com a apreensão de cartas na sede do PSB, partido aliado ao PT em Contagem, acusando Carlin de promover festas regadas a drogas e álcool.

Baixarias de campanha à parte, a disputa política em segundo turno em Contagem recoloca o PSDB em campo, isolando o adversário petista. Carlin Moura, que já tinha em sua coligação o PMDB e o PDT, conta agora com os tucanos em seu palanque. O senador Aécio Neves (PSDB) está na campanha, inclusive com participação em eventos. Com o tucano, chega o prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB), embora o vice de Durval Ângelo seja do PSB. Diferentemente de Belo Horizonte, em Contagem, não apenas o PSB formalizou coligação com o PT como também o PV, o PPS, o PR e outras sete pequenas legendas. Carlin terminou o primeiro turno com 118.748 votos, o que corresponde a 37,88% dos votos válidos, e Durval teve 98.241 votos (31,33%). Contagem é o terceiro colégio eleitoral de Minas, com 432.894 eleitores.

Os partidos brigam neste momento pela Prefeitura de Contagem, mas é em torno de 2014 que surge a principal indagação em relação ao alinhamento em Minas para as eleições presidenciais de legendas como o PSB e agora, o PCdoB. Daqui a dois anos, para o Palácio do Planalto, anuncia-se a disputa entre a presidente Dilma Rousseff (PT) e o senador Aécio Neves . Contagem passa a ser mais uma cidade mineira onde o tucano apoia um candidato da base de sustentação da presidente petista contra candidatos do PT.

O Estado de Minas entrevistou Carlin e Durval e, ao final, pediu que um fizesse uma pergunta para o outro.

Carlin Moura

É a primeira vez que o PCdoB disputa com real chance de ganhar uma prefeitura grande em Minas Gerais. Na hipótese de sua vitória, o partido terá estrutura para governar Contagem?
O PCdoB hoje é um partido em franco crescimento, que tem larga experiência. Estivemos com o ex-presidente Lula (PT) desde a sua primeira campanha, acompanhamos todo o processo de crescimento, desaguando no governo da presidente Dilma (PT). O PCdoB adquiriu muita experiência com participação em ministérios. Estivemos à frente de prefeituras importantes no Brasil como Olinda (PE) e Aracaju (SE). Em Minas já tivemos vitórias importantes como em Cataguases e em Francisco Sá. Em Contagem estamos tendo a capacidade de construir um grande projeto político envolvendo as lideranças políticas e sociais – trabalhadores e sindicais – da cidade. Construímos um amplo leque de alianças, com um programa de governo focado na cidade e com amplitude política. Esse é o grande mérito do PCdoB, partido do diálogo e da amplitude.

No segundo turno o senhor enfrenta um aliado histórico, pois o PCdoB e o PT sempre estiveram juntos na maior parte das disputas. Há algum desconforto?
De forma alguma. O que nós conseguimos, o foco que adotamos é que fizemos uma campanha em primeiro turno, continuamos a fazer em segundo turno, tendo como centro os interesses reais de Contagem. A disputa envolve interesses da vida do povo de Contagem. Não é uma disputa partidária. O meu compromisso primeiro é com a cidade de Contagem. Obviamente que eu compreendo a importância e o papel dos partidos políticos na execução de um programa, na gestão de uma cidade. Mas o interesse que vem em primeiro lugar é o da cidade. Neste segundo turno estamos criando amplo leque de alianças. Já temos em nosso campo 17 legendas. Dos 21 vereadores eleitos, 14 estão no nosso campo. Temos a unidade dos três senadores da República. Temos o apoio do setor empresarial, a unidade do setor evangélico, temos um amplo apoio do segmento dos trabalhadores, sindical, da juventude. E continuamos tendo uma relação muito respeitosa, muito digna, não há nenhum antagonismo entre PT e PCdoB, são partidos políticos que se respeitam, continuamos a ser da base de sustentação de Dilma.

O PCdoB e o PT eram alinhados a um bloco de oposição na Assembleia. O apoio do PSDB ao PCdoB em Contagem muda o comportamento do PCdoB na Casa em relação ao governo?
O cuidado que nós tivemos nas eleições de Contagem é não partidarizar as eleições. Fizemos campanha propositiva, focada nos interesses da cidade. Os interesses dos partidos ficaram em segundo plano. Isso não tem nada a ver com a relação da Assembleia, com a eleição de 2014. Hoje estamos focados para implementar um programa de governo que vai trazer de volta as Funecs (Fundação de Ensino de Contagem, que oferece educação profissional de nível médio), que vai manter o IPTU residencial gratuito, que vai reformular a gestão da saúde pública, que vai retomar as grandes obras de infraestrutura, que vai fazer a cidade ter crescimento econômico mais ousado e valorizar a qualidade de vida do povo de Contagem. Essa é a tônica de nossa campanha. Os partidos são importantes, mas não podem se sobrepor aos interesses da cidade.

Pergunta formulada pelo candidato Durval Ângelo

O senhor e os seus apoiadores têm dito, em carros de som, que eu, Durval Ângelo, que atuo com os direitos humanos, sou defensor de bandido. O senhor acredita mesmo nisso ou é uma tática para angariar votos?

Fizemos e estamos fazendo uma campanha propositiva, respeitosa com os adversários, os concorrentes e com os eleitores de Contagem. Quem está acompanhando todo o processo eleitoral de Contagem, o programa de televisão, as peças elaboradas vai perceber que a minha campanha está altamente respeitosa. Se há alguma campanha que está extrapolando os limites não é a nossa.


Durval Ângelo

O PCdoB é um aliado histórico do PT. Essa disputa com o PCdoB em Contagem traz desconforto?
Os dois partidos são da base aliada do Lula e com atuação em movimentos populares e sindicais. Só que em Contagem não é a primeira vez que acontece isso. Nas duas últimas eleições o PCdoB teve candidato que se opôs a Marília Campos. Foi o próprio Carlin Moura. Só que ele não foi para o segundo turno e apoiou o PT. O PCdoB teve, inclusive, uma secretaria neste governo da Marília.

Sua chapa em Contagem tem um vice do PSB. E o PSB e o PT em BH tiveram uma disputa pesada pela prefeitura. Como é a sua relação com o PSB em Minas?
Quando a gente fechou essa aliança, há uns seis meses, era dentro de uma certeza de que a aliança seria mantida em BH e que ela representava os elementos da continuidade de Marília. Além disso, o PSB sempre foi da base de sustentação do governo de Marília em Contagem. Nosso vice, Leo Antunes, é um jovem filiado desde os 17 anos e preside o PSB na cidade. Ele foi secretário de Desenvolvimento Econômico do governo da Marília. Meu vice entrou na chapa com um papel definido, com muita clareza do que iria fazer. E a gente imaginava que a aliança seria mantida em BH, o que ajudaria na campanha em Contagem, pois ali a chapa se invertia, com o PT na cabeça e o PSB de vice. Aconteceu na última hora esse conflito em BH. O PSB do estado sempre respeitou a questão local. Nós recebemos na campanha lideranças do PSB trabalhando para nós.

O governador Antonio Anastasia (PSDB) está apoiando a candidatura de Carlin Moura. Se eleito, o senhor terá dificuldades na interlocução com o governo do estado?
São três momentos. Um é um momento de eleição, outro é um momento de governo e um terceiro momento é a eleição de 2014. Evidentemente que em 2014 o meu posicionamento é o do meu partido. Mas não teria dificuldade, pois tenho essa interlocução aqui no Legislativo nas coisas que são boas e importantes para o estado. Agora, eu não poderia nunca aceitar o apoio do PSDB em Contagem. Não é pela questão ideológica de partido. Mas é pelo recado das urnas. Nas últimas eleições em Contagem, gradativamente, as duas oligarquias estão sendo sepultadas. Uma é a oligarquia newtista, representada pelo PMDB. Outra é a oligarquia do Ademir Lucas, representada pelo PSDB. Nesta eleição 75% rejeitaram essa oligarquia. Se a gente pode dizer que tem uma vitoriosa nas eleições, numa leitura subjetiva em Contagem, é Marília Campos. Ela inaugurou uma nova prática política na cidade, sem clientelismo, tratando a Câmara com independência, sem amarras, sem cabresto, sem uma postura autoritária, pois os canais de participação são efetivos. Com isso, sem ela precisar, sem ser intencional, ela sepultou essas duas oligarquias.

Pergunta formulada pelo candidato Carlin Moura

O senhor candidato do PT pretende reabrir as unidades da Funec fechadas pelo atual governo?
Eu pretendo ter a postura do deputado Carlin na Assembleia. No ano passado ele usou em três momentos a tribuna para dizer que a Marília tinha acertado mudando a vocação das Funecs para o ensino profissionalizante. O deputado Carlin disse no plenário que a culpa do fechamento de Funec de ensino médio em Contagem foi do governo estadual, que não quis assinar convênio para fazer o repasse do Fundeb. Jogou a responsabilidade no governo Aécio e no governo Anastasia. Eu tenho coerência de vida. Não vou ter um discurso no palanque e outro depois. O que aconteceu em Contagem? Com a lei da Fundeb, o município não pode, a não ser que tenha convênio com o estado, investir em ensino médio (científico). Para os cursos que são de ensino médio, o estado criou 10.670 vagas em Contagem, inclusive diurno, e hoje temos ociosidade de vagas. E em que a Marília investiu? No profissionalizante. Ela fez convênio com o governo federal e criou 10 mil vagas do Pronatec, o profissionalizante de curta duração para jovem. Contagem tem a escola técnica federal que é profissionalizante. Eu reabrirei quantas escolas a Funec precisar, mas profissionalizantes. Então, eu serei no governo de Contagem o que o deputado Carlin pregou na tribuna da Assembleia, ou seja, as medidas tomadas pela Marília. 

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