terça-feira, 26 de junho de 2012

Artesã cega desde que nasceu confecciona roupas de crochê de caimento perfeito


Artesã cega desde que nasceu confecciona roupas de crochê de caimento perfeitoUm detalhe curioso é que Sueli nunca tirou as medidas de nenhuma cliente.

Publicação: 26/06/2012 10:23 Atualização: 26/06/2012 10:35
Mãos delicadas e ágeis entrelaçam rapidamente linha e agulha, dando forma a um belo vestido. Cena comum para as artesãs de Natal, não fosse o fato das mãos citadas serem guiadas por olhos que não veem. Sueli Faria dos Santos, 40 anos, cega desde o nascimento é uma mulher guerreira que vive da sua arte e encanta pela delicadeza do seu trabalho.

A artesã Sueli: 'Eu faço todas as peças que os clientes me pedem sem precisar tirar medidas' (Carlos Santos/DN/D.A Press )
A artesã Sueli: "Eu faço todas as peças que os clientes me pedem sem precisar tirar medidas"
Sueli mora com a mãe, dona Maria dos Santos, o irmão e um sobrinho em uma humilde residência que dispõe apenas de quatro cômodos no Bairro de Felipe Camarão, Zona Oeste da cidade. A mãe, uma senhora de 67 anos, não recebe aposentadoria, deste modo o sustento da família vem da aposentadoria por invalidez que Sueli recebe e complementa com o dinheiro da venda do artesanato.

"Eu faço de tudo, toalhas de mesa, roupas de crianças, vestidos, saias, o que a cliente encomendar eu pego minha agulha e faço rapidinho" conta ela, mostrando as roupas que tem em casa. Um detalhe curioso é que Sueli nunca tirou as medidas de nenhuma cliente. Ela pergunta como a pessoa é fisicamente e pelo tato ela sabe o tamanho que deve fazer a peça. A artífice iniciou os trabalhos com o tricô, pois as duas agulhas grandes são mais fáceis de manejar.

Mas há seis anos, uma vizinha ofereceu-se para ensiná-la e com uma revista em mãos foi narrando passo a passo o que Sueli deveria fazer. A vizinha não mora mais na rua, mas é lembrada com carinho, pois foi ela que, pacientemente, ensinou o que hoje se tornou uma verdadeira paixão. "Quando não pego no croché passo o dia mole, com sono, pois para mim é uma terapia" acrescenta.

Delicadeza


No início, devido a dificuldade, a crocheteira - como são chamadas - utilizava uma agulha mais grossa para facilitar o manuseio, substituindo posteiormente pela agulha mais fina, que permite uma maior delicadeza nos trabalhos e mais agilidade na confecção das peças. O ponto preferido da artífice é o chamado "escama de peixe", delicado e bastante trabalhoso, mas feito com uma facilidade que causa admiração pela agilidade e precisão comque movimenta a agulha. Em um quarto simples que divide com a mãe, Sueli expôs as roupas sobre a cama e o acabamento bem feito chamou a atenção. Quando questionada sobre o tipo de ponto que usou, com um simples toque ela reconhece o ponto em rosa da saia a que nos referimos.

O trabalho da artesã já chegou a ir para o Rio de Janeiro, através de uma tia que levou os artigos para serem vendidos lá, afirma Sueli, orgulhosa de ver seus produtos serem reconhecidos em outro estado.

O ganho mensal com o artesanato fica em torno dos R$ 300,00, mas este valor dobra no mês de dezembro, quando a procura pelos artigos aumenta e ela recebe mais encomendas.

Vaidosa, como se define, não abre mão de comprar produtos de beleza para cuidar do corpo. "Eu gosto do meu trabalho, mais ainda porque ele permite que eu compre as besteirinhas que eu gosto, sou vaidosa, gosto de me cuidar" relata.

A rotina de Sueli dos Santos é basicamente caseira, mas ela revela mais um lado artístico, é cantora na Igreja que frequenta. Chegou, inclusive, a gravar um CD com músicas evangélicas, visitando várias congregações nos municípios do interior do estado para cantar. " Servir a Deus é o meu maior orgulho, sou uma pessoa muito abençoada", declara.

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