sexta-feira, 16 de março de 2012

ORGULHO DE SER MINEIRO RIO DOCE.MARCO MARCAO CAVALCANTE. No Rio Doce, aço vira peça de navio Encomendas da indústria naval criam oportunidade para médias empresas numa região que ainda enfrenta desafio de desenvolver o campo

ORGULHO DE SER MINEIRO RIO DOCE. 


MARCO MARCAO CAVALCANTE.


No Rio Doce, aço vira peça de navio Encomendas da indústria naval criam oportunidade para médias empresas numa região que ainda enfrenta desafio de desenvolver o campo
Zulmira Furbino -
Publicação: 14/09/2011 13:57 Atualização: 14/09/2011 14:19

A produção metal-mecânica na região é comandada por grandes siderúrgicas (Márcio Castello)
A produção metal-mecânica na região é comandada por grandes siderúrgicas


Peças para navios, turbinas para hidrelétricas e estruturas para torres de energia eólica são algumas das grandes encomendas que têm animado a indústria na cidade de Ipatinga, no coração ferrífero da região do Rio Doce. O novo e concorrido mercado mobiliza as médias empresas que se estabeleceram na região para atuar como elos da cadeia de produção metal-mecânica, comandada pelas grandes siderúrgicas Usiminas e ArcelorMittal. “Passamos a fornecer blocos para navios. São peças muito grandes, que fazem parte da infraestrutura da embarcação”, diz Antônio José Moreira, proprietário da Faceme.

Esse e outros mercados começaram a ser desbravados pelas fábricas do Vale do Aço depois do susto provocado pela crise financeira mundial, que eclodiu no final de 2008. Por falta de encomendas, empresas chegaram a ficar três meses paradas. Beneficiadas pela legislação que obriga a nacionalizar parte dos componentes na indústria do petróleo, o que inclui embarcações para exploração de óleo no mar, as empresas investiram na diversificação da clientela, como fez a Faceme e várias outras empresas do município. "Até então, estávamos limitados a fornecer peças para às mineradoras e siderúrgicas da região", diz ele. "A abertura para novos clientes nos permitiu diversificar a produção e isso nos deixa mais seguros." Hoje, a produção dirigida às indústria naval e elétrica representa 10% do faturamento das empresas ligadas ao Sindicato Intermunicipal das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Ipatinga (Sindimiva).

A economia da região do Rio Doce vem crescendo em ritmo acelerado puxada por municípios industrializados como Ipatinga, João Monlevade, Coronel Frabriciano e Timóteo. Fora dessa ilha de prosperidade, porém, enfrenta grandes desafios. "A região vive duas realidades distintas", afirma o presidente da Associação Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Mauro Borges Lemos. O Vale do Aço, cujas indústrias começaram a se implantar em meados do século 20, está integrado aos setores de eletrodomésticos, veículos automotores, material de transporte e construção civil. Em contraste com esse panorama, porém, a economia rural, que engloba cerca de 42% da população, não conseguiu se estruturar desde a decadência do ciclo do ouro, iniciada na segunda metade do século 18.

O caminho para superar essa debilidade, segundo Lemos, é organizar a agricultura, que reúne famílias de pequenos agricultores, e também desenvolver tecnologia para melhorar a qualidade do solo e aproveitar a privilegiada bacia hidrográfica. É o que a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater) vem tentando fazer com programas como o Minas Leite, para o desenvolvimento da bovinocultura leiteira e para a integração da lavoura com a pecuária e o plantio de florestas desde 2008.

Em Coroaci, Marciado Geraldo da Silva, eleito um dos 10 produtores rurais destaque do Minas Leite, contabiliza os resultados do programa. Em agosto do ano passado, suas sete vacas produziam 35 litros de leite por dia. Hoje são 13 vacas, e a produção diária chega a 87 litros. Outros produtores que iniciaram a integração entre agricultura, pecuária e floresta também registram avanços. “Quem começou há três anos já desenvolveu pastagem em áreas que antes eram totalmente degradadas”, diz Marcelo Bomfim, coordenador da unidade regional da Emater em Guanhães.

A influência do Vale do Aço na soma das riquezas do Vale do Rio Doce é tão grande que quando se separa a primeira região da segunda, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) sai do 2º lugar para a 6ª colocação entre as 10 regiões de planejamento do estado. Governador Valadares, principal município do vale do Rio Doce, vive na pele os dilemas econômicos da região. A cidade viveu os ciclos da mica, da madeira e do minério, e até o ciclo dos dólares enviados pelo valadarenses que foram tentar a sorte nos Estados Unidos.

“Ainda não sabemos para que lado vamos seguir”, reconhece a presidente da regional da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Rosane Azevedo. Em agosto, os presidentes das principais entidades ligadas à economia no município reuniram-se para tentar descobrir qual é a verdadeira vocação de Governador Valadares. Enquanto discute o que fazer, a cidade se apoia no comércio. “Aqui não há uma empresa de grande porte. Por isso, todo mundo gira o dinheiro que tem investindo no comércio", diz Marcelo Andrade, dono de concessionárias de automóveis, postos de combustível e hotéis em Guanhães, Caratinga, Ipatinga e Coronel Fabriciano.

Na região, cresce a produção e a exportação de gemas. Além dos rios caudalosos, o Vale do Rio Doce foi premiado com a presença de importantes minas de turmalinas e águas marinhas. Depois de um período de baixa na atividade, o volume exportado de pedras no país, metade delas oriundas de municípios próximos a Governador Valadares, como São José da Safira, aumentou 33% de janeiro a agosto de 2011 em comparação com igual período do ano anterior. Em 2010, o faturamento com as vendas externas foi de US$ 140 milhões. O preço das pedras também subiu. “No ano passado a gente vendia o quilo do cascalho de turmalina a US$ 1 mil. Hoje, vendemos a US$ 4 mil”, contabiliza Douglas Willians Neves, proprietário da Nevestones, mina de turmalinas que foi a primeira a ser visitada pelo bandeirante Fernão Dias Paes Leme.

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