quinta-feira, 21 de junho de 2012

Cegos "sentem" De Chirico e Caravaggio em exposição em Belo Horizonte Alunos do Instituto São Rafael visitaram as exposições da Casa Fiat de Cultura e se emocionaram


Cegos "sentem" De Chirico e Caravaggio em exposição em Belo HorizonteAlunos do Instituto São Rafael visitaram as exposições da Casa Fiat de Cultura e se emocionaram

Publicação: 21/06/2012 06:00 Atualização: 21/06/2012 06:38
Para entender as obras de Caravaggio, eles recebem um aparelho MP3 e ouviram as descrições (Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Para entender as obras de Caravaggio, eles recebem um aparelho MP3 e ouviram as descrições

Com as mãos, eles viram De Chirico. Com os ouvidos, enxergaram as telas de Caravaggio e seus seguidores. Vinte crianças, adolescentes e adultos, todos com deficiência visual e alunos do Instituto São Rafael, visitaram nessa quarta-feira as exposições da Casa Fiat de Cultura, em Belo Horizonte. E se emocionaram. Eles conheceram as telas por meio de audiodescrições, com detalhes das obras e técnicas usadas pelos artistas. “É um senhor de idade, sentado em uma mesa, com três livros. Sobre um dos livros há uma caveira. É um senhor de idade, mas que tem aparência de muita saúde. Os livros representam que ele é um escritor”, descreveu Isabela Monteiro, de 16 anos, depois de conhecer o óleo sobre tela São Jerônimo que escreve, de Caravaggio. “Aprendi muita coisa e vou lembrar desse momento que passei aqui. Aprendi muita coisa legal”, conta a estudante.

Das esculturas de De Chirico, ela disse ter gostado mais das Musas Inquietantes, que ela pôde tocar, usando luvas, e também contou com fichas em braile para melhor compreender o trabalho artístico. “A minha tarde foi inesquecível. Vou ter muito o que contar para os meus pais”, disse Isabela.

Mateus Ferreira dos Santos, de 13, escutou atentamente a gravação sobre a tela São Jerônimo que escreve. “No centro do quadro está a figura de um ancião sentado a uma mesa. Ele tem o corpo voltado ligeiramente para a esquerda da tela, de onde parece vir a maior parte da luz desta representação”, dizia, pausadamente, a voz de uma mulher. Para o estudante, a descrição foi tão completa que foi possível imaginar a beleza do quadro.

Acesso
O programa educativo acessível às pessoas com deficiência foi desenvolvido pela Casa Fiat de Cultura, dentro do projeto de acessibilidade idealizado por Aída Ferrari e pelo professor de história da arte Flávio de Oliveira, que é doutor em educação e que também não enxerga. “É uma técnica que consiste em transformar as palavras em imaginação. As crianças recebem aparelhos de MP3 com várias faixas, descrevendo e explicando cada obra”, conta o professor.

O estudante Willian Wander Pinalli Júnior, de 16, espera voltar mais vezes ao museu para conhecer outras esculturas. “Gostei de todas as obras. Toquei em três obras de De Chirico e a sensação é impressionante. Gostei mais de O grande trovador”, disse Willian. “Ele não tem as mãos, somente os pés. No lugar das mãos há triângulos”, descreveu.

A vice-diretora do Instituto São Rafael, Silvania Morais, conta que a primeira visita feita com os alunos foi à exposição das obras de Rodin. “A gente percebe que o cego, a partir da descrição, pode também vivenciar o que é o claro, o que é o escuro, o que é o quente, o frio, o vermelho intenso da paixão e o preto da tristeza e da melancolia”, disse Silvania.

O objetivo da Casa Fiat de Cultura, segundo o presidente José Eduardo de Lima Pereira, é dar acesso acesso a todos. “Todo mundo tem que estar aqui. O objetivo é chegar a essas pessoas. A minha maior satisfação em voltar para casa todos os dias depois de um dia de trabalho é o sorriso das pessoas, como o dessas crianças”, disse.

Nenhum comentário: