Assistência do Mais Médicos cai pela metade em Minas GeraisMais de 50% dos 107 profissionais formados no Brasil e indicados para municípios mineiros desistiram ou foram dispensados pelas prefeituras antes de começar a trabalhar
Tiago de Holanda
Publicação: 18/10/2013 06:00Atualização: 18/10/2013 07:37
Tiago de Holanda
Publicação: 18/10/2013 06:00Atualização: 18/10/2013 07:37
Mais da metade dos 107 profissionais formados no Brasil já selecionados para Minas pelo Mais Médicos desistiram de participar do programa ou foram dispensados pelas prefeituras antes de começar a trabalhar. O Ministério da Saúde havia anunciado na terça-feira que, dos 72 bolsistas designados para o estado na primeira etapa do programa, apenas 37 assumiram o cargo (51,4%). Levantamento feito pelo EM mostra que, na segunda fase, a proporção foi ainda menor: dos 35 escolhidos, somente 15 (42,8%) estão trabalhando ou confirmaram participação.
Os 416 médicos graduados no país selecionados na segunda fase teriam de se apresentar até segunda-feira passada aos municípios onde trabalhariam, ou seriam desligados do programa, segundo o ministério. Quem fosse recusado pelas prefeituras poderia, se quisesse, ser encaminhado a outras cidades.
Dos 35 bolsistas que deveriam ter ido para 21 prefeituras, segundo a lista divulgada pelo governo, 14 informaram que desistiram ou não apareceram nem deram explicação. Outros seis foram dispensados pelos gestores municipais.
Segundo a Secretaria de Saúde de BH, uma médica inscrita na segunda etapa trabalha desde o dia 10 no centro de saúde do Bairro Jardim Vitória, Região Nordeste. Os outros dois indicados para a capital atuariam em unidades do Barreiro e da Pampulha, mas não se apresentaram.
Em Brumadinho, na Grande BH, o médico foi contratado pela prefeitura antes de ser publicada a lista de selecionados do Mais Médicos. “Havia uma vaga para saúde da família, ele entrou em contato conosco e contratamos. Não sabíamos que ele tinha feito a inscrição”, informou a coordenadora de Atenção Básica, que se identificou apenas como Patrícia.
Em Sete Lagoas, na Região Central, a profissional chegou a confirmar participação à coordenadora de Atenção Primária da Secretaria de Saúde, Sueli Barbosa, mas desistiu.
Em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, uma médica atende desde segunda-feira, mas as outras duas desistiram, segundo a coordenadora de Atenção Básica, Caroline Luz Pinheiro. “Uma delas disse que trabalha em Governador Valadares, onde ganha o mesmo valor da bolsa do Mais Médicos (R$ 10 mil), e por isso não compensaria se mudar de cidade”, conta. Outra bolsista, Samaira Prado Coelho, de 34 anos, está fazendo especialização em dermatologia em BH e tentou adiar o início do trabalho, o que não é permitido. “Quero trabalhar lá, mas só posso começar no fim de novembro ou no início de dezembro. Falta apenas um mês para acabar a pós-graduação. Mandei um e-mail para o ministério pedindo para adiar, mas não obtive resposta”, disse ao EM.
Em Ipatinga, na mesma região, a única médica designada desistiu, segundo o secretário de Saúde, Eduardo Penna, porque queria trabalhar menos de 40 horas semanais, como exige o programa. “Ela não queria cumprir essa carga horária”, informou Penna. A médica atenderia de 15 a 25 pacientes por dia na cidade, que pediu oito médicos ao programa e conseguiu dois na primeira etapa. Em Timóteo, no Vale do Aço, o médico alegou que desistiu “por problemas pessoais”, informou a coordenadora de Atenção Primária, Juliana Ávila de Souza.
Os dois designados para Passos, no Sul do estado, também desistiram, mas a Secretaria de Saúde não informou se eles se justificaram. Dos quatro bolsistas selecionados para Januária, no Norte de Minas, apenas dois estão trabalhando.
Um dos três médicos destinados a Ubá, na Zona da Mata, desistiu. Em Fervedouro, na mesma região, o médico foi dispensado pela prefeitura depois de reclamações dos profissionais já contratados pelo município para a saúde básica. Segundo o prefeito Carlos Corindon, os servidores têm salário de R$ 6,5 mil e queriam ganhar R$ 10 mil, valor da bolsa do colega. Ele afirmou que a prefeitura só continuará no programa se o governo repassar verba suficiente para pagar R$ 10 mil a todos os médicos. “Não vou criar mal-estar entre os médicos que já estão conosco. Correria o risco de ganhar um médico e perder os outros”, disse. Corindon informou que o profissional foi recusado também porque a prefeitura constatou que ele não tem experiência em atenção básica.
Em Coração de Jesus, no Norte de Minas, cinco profissionais foram recusados, de acordo com a secretária de Saúde, Neila Souto. “Não pedimos cinco, e sim quatro. Queríamos pelo menos um para a unidade que está sem médico desde julho, mas eles demoraram demais para se apresentar. Contratamos em agosto um profissional que já morava aqui”, explicou. A prefeitura desistiu de manter os bolsistas também ao descobrir que teria que dar auxílio para moradia, alimentação e transporte. “Não poderíamos arcar com esses gastos. O programa é muito confuso. Tivemos dificuldade para conseguir informações com o ministério”, criticou. Em Itacambira, também houve uma desistência.
CRÍTICA
As desistências já eram esperadas, na avaliação do presidente da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Lincoln Lopes Ferreira. “Se conversarmos com todos os médicos que desistiram, acredito que eles apontarão problemas de infraestrutura entre suas razões. O principal motivo que leva o brasileiro a não encarar esses lugares é a precariedade total. Sem estrutura, planejamento e financiamento adequado, médico não faz milagre.”, analisa.
Os 416 médicos graduados no país selecionados na segunda fase teriam de se apresentar até segunda-feira passada aos municípios onde trabalhariam, ou seriam desligados do programa, segundo o ministério. Quem fosse recusado pelas prefeituras poderia, se quisesse, ser encaminhado a outras cidades.
Dos 35 bolsistas que deveriam ter ido para 21 prefeituras, segundo a lista divulgada pelo governo, 14 informaram que desistiram ou não apareceram nem deram explicação. Outros seis foram dispensados pelos gestores municipais.
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Em Sete Lagoas, na Região Central, a profissional chegou a confirmar participação à coordenadora de Atenção Primária da Secretaria de Saúde, Sueli Barbosa, mas desistiu.
Em Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, uma médica atende desde segunda-feira, mas as outras duas desistiram, segundo a coordenadora de Atenção Básica, Caroline Luz Pinheiro. “Uma delas disse que trabalha em Governador Valadares, onde ganha o mesmo valor da bolsa do Mais Médicos (R$ 10 mil), e por isso não compensaria se mudar de cidade”, conta. Outra bolsista, Samaira Prado Coelho, de 34 anos, está fazendo especialização em dermatologia em BH e tentou adiar o início do trabalho, o que não é permitido. “Quero trabalhar lá, mas só posso começar no fim de novembro ou no início de dezembro. Falta apenas um mês para acabar a pós-graduação. Mandei um e-mail para o ministério pedindo para adiar, mas não obtive resposta”, disse ao EM.
Em Ipatinga, na mesma região, a única médica designada desistiu, segundo o secretário de Saúde, Eduardo Penna, porque queria trabalhar menos de 40 horas semanais, como exige o programa. “Ela não queria cumprir essa carga horária”, informou Penna. A médica atenderia de 15 a 25 pacientes por dia na cidade, que pediu oito médicos ao programa e conseguiu dois na primeira etapa. Em Timóteo, no Vale do Aço, o médico alegou que desistiu “por problemas pessoais”, informou a coordenadora de Atenção Primária, Juliana Ávila de Souza.
Os dois designados para Passos, no Sul do estado, também desistiram, mas a Secretaria de Saúde não informou se eles se justificaram. Dos quatro bolsistas selecionados para Januária, no Norte de Minas, apenas dois estão trabalhando.
Um dos três médicos destinados a Ubá, na Zona da Mata, desistiu. Em Fervedouro, na mesma região, o médico foi dispensado pela prefeitura depois de reclamações dos profissionais já contratados pelo município para a saúde básica. Segundo o prefeito Carlos Corindon, os servidores têm salário de R$ 6,5 mil e queriam ganhar R$ 10 mil, valor da bolsa do colega. Ele afirmou que a prefeitura só continuará no programa se o governo repassar verba suficiente para pagar R$ 10 mil a todos os médicos. “Não vou criar mal-estar entre os médicos que já estão conosco. Correria o risco de ganhar um médico e perder os outros”, disse. Corindon informou que o profissional foi recusado também porque a prefeitura constatou que ele não tem experiência em atenção básica.
Em Coração de Jesus, no Norte de Minas, cinco profissionais foram recusados, de acordo com a secretária de Saúde, Neila Souto. “Não pedimos cinco, e sim quatro. Queríamos pelo menos um para a unidade que está sem médico desde julho, mas eles demoraram demais para se apresentar. Contratamos em agosto um profissional que já morava aqui”, explicou. A prefeitura desistiu de manter os bolsistas também ao descobrir que teria que dar auxílio para moradia, alimentação e transporte. “Não poderíamos arcar com esses gastos. O programa é muito confuso. Tivemos dificuldade para conseguir informações com o ministério”, criticou. Em Itacambira, também houve uma desistência.
Lincoln Lopes Ferreira, presidente da Associação Médica de Minas Gerais |
As desistências já eram esperadas, na avaliação do presidente da Associação Médica de Minas Gerais (AMMG), Lincoln Lopes Ferreira. “Se conversarmos com todos os médicos que desistiram, acredito que eles apontarão problemas de infraestrutura entre suas razões. O principal motivo que leva o brasileiro a não encarar esses lugares é a precariedade total. Sem estrutura, planejamento e financiamento adequado, médico não faz milagre.”, analisa.
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