sexta-feira, 16 de março de 2012

Triângulo investe na energia do bagaço de cana Até 2015, 25 usinas de álcool e açúcar vão somar 2.000 MW em capacidade de geração de energia a partir de biomassa. A região aguarda construção do gasoduto que alimentará a nova fábrica de amônia da Petrobras


ORGULHO DE SER MINEIRO - TRIANGULO.
MARCO MARCAO CAVALCANTE.
 

Triângulo investe na energia do bagaço de cana Até 2015, 25 usinas de álcool e açúcar vão somar 2.000 MW em capacidade de geração de energia a partir de biomassa. A região aguarda construção do gasoduto que alimentará a nova fábrica de amônia da Petrobras

Zulmira Furbino -
Publicação: 09/11/2011 14:27 Atualização: 09/11/2011 15:13

Tanques de amônia na fábrica da Vale Fertilizantes (Mário Castello)
Tanques de amônia na fábrica da Vale Fertilizantes


Dentro de quatro anos, as 25 usinas de álcool e açúcar do Triângulo Mineiro deverão atingir a marca de 2.000 MW em capacidade de cogeração de energia a partir do bagaço de cana. Isso é mais do que uma usina de São Simão, a maior hidrelétrica da Cemig, cuja potência instalada é de 1.700 MW. Hoje, as usinas de álcool e açúcar do Triângulo já comercializam 297,5 MW provenientes da biomassa gerada pela queima do bagaço. “A região é a maior produtora de energia a partir da cogeração de bagaço de cana em Minas”, diz Luiz Custódio Cotta Martins, presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Minas Gerais (Siamig/Sindaçúcar-MG).

No Triângulo Mineiro concentram-se 74% da cana moída, 81% do açúcar e 71% do etanol produzidos no estado. Entre 2003 e 2010, o setor investiu R$ 4 bilhões em empreendimentos instalados no Triângulo. Entre outros desafios colocados para o setor está a negociação para a construção da infraestrutura que vai levar a energia das usinas, através de linhas de transmissão, ao sistema integrado nacional.

Outros investimentos que estão na pauta de modernização do Triângulo Mineiro – e estão prestes a ser realizados – são a construção do gasoduto que ligará o município de São Carlos, em São Paulo, a Uberaba, e a implantação da fábrica de amônia da Petrobras, que consumirá 1.257 mil metros cúbicos diários de gás natural para produzir 519 mil toneladas por ano de amônia. O empreendimento foi confirmado pela presidenta Dilma Rousseff em janeiro deste ano. Quando sair efetivamente do papel, a fábrica da Petrobras vai abastecer a Vale Fertilizantes, a antiga Fosfértil, em Uberaba, adquirida pela mineradora por R$ 3,8 bilhões.

Nos últimos 10 anos, a soma de riquezas produzidas no Triângulo Mineiro triplicou. O Produto Interno Bruto da região, capitaneado pelas atividades ligadas ao agronegócio e serviços ligados ao setor, saiu de R$ 10,2 bilhões em 1999 para R$ 31,2 bilhões em 2008, segundo os últimos dados da Fundação João Pinheiro. A prosperidade chegou ao Triângulo na forma da agricultura de alta precisão, do melhoramento genético do rebanho, da biotecnologia aplicada na produção de grãos, e segue abrindo caminho em segmentos como o de telecomunicações.

Um dos pontos fortes da região são as oportunidades de integração entre setores. Essa característica é marcante no Triângulo, como se vê pela presença de empresas como Cargill, Syngenta e Monsanto. Junto com outras do mesmo ramo essas grandes empresas formam um cinturão de base da produção agrícola em torno de Uberlândia. Alvo de críticas dos inimigos dos transgênicos, a norte-americana Monsanto produz sementes de milho híbrido, de alta performance. A semente geneticamente modificada já está entrando em sua terceira geração. “É um desafio aos limites da produtividade”, diz a gerente da fábrica, Virgínia Jacob.

Graças aos processos de melhoramento genético do Zebu, Uberaba tornou-se referência mundial entre criadores. As três principais centrais de inseminação artificial de Zebu no Brasil – Alta Genetics, ABS e Nova Índia - estão instaladas ali. Com a técnica, um só touro pode produzir entre 400 e 500 sêmens a cada 15 dias. Nos últimos 10 anos, uma revolução nos processos de reprodução do gado concorreu para colocar o setor em evidência. “Passamos a usar não só os touros, mas também as matrizes para o melhoramento genético", diz o superintendente comercial da Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), João Gilberto Bento. Como cada vaca pode gerar entre 50 e 60 bezerros por ano, houve um aumento exponencial na produção de material genético. Uberaba passou a abrigar, além de centros de inseminação, os principais centros de reprodução genética do país.

A vocação agropecuária também qualifica a região do Triângulo para o setor de produção de proteína animal – aves, suínos e bovinos. Segundo estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais, há potencial para transformar a região numa das principais cadeias mundiais do segmento. A meta é chegar a 450 mil toneladas anuais de carne.

A energia econômica do Triângulo se revela na força com que o setor de serviços prospera em municípios como Ituiutaba, Araguari, Uberaba e Uberlândia. Nesta última, existem nada menos que 600 atacadistas e distribuidores e mais de 300 transportadores de portes variados, segundo levantamento da Associação Mineira dos Municípios (AMM). O setor movimenta R$ 5 bilhões ao ano e gera cerca de 20 mil empregos diretos e indiretos. A localização geográfica privilegiada explica por que ali se instalaram as três maiores empresas atacadistas-distribuidoras do Brasil: os grupos Martins, Arcon e Peixoto que, juntos, faturam cerca de R$ 3 bilhões por ano. No mundo do serviços, além de transporte e comércio, há lugar para o crescimento na área da tecnologia, como mostra a expressiva presença de contacts centers na região. Só o grupo Algar conta com duas centrais de atendimento, uma em Uberlândia e outra recém-inaugurada em Ituiutaba.

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